Vejo pessoas respeitáveis comemorando resposta que a candidata do PSOL à Presidência, Luciana Genro, deu ao tucano Aécio Neves quando por ele foi perguntada sobre “educação” no debate da CNBB, na última terça-feira. Ela aproveitou a pergunta para lembrar quem é o PSDB e o próprio Aécio.
Antes de prosseguir, assista ao vídeo a cima. Tem cerca de 5 minutos.
O tucano e o “pastor” Everaldo – que só não quer privatizar o dízimo que “igrejas” como a dele recebem do Estado via subvenções e renúncias fiscais de toda sorte – tinham acabado de fazer uma tabelinha para acusar o PT de corrupção. Eis que Luciana ignora a pergunta e manifesta indignação com a cara-de-pau de justamente um tucano fazer acusações de “corrupção”.
Luciana é uma grande oradora. Inteligente, simpática e a sua indignação com tanta coisa errada que há no Brasil, soa legítima. Contudo, ela parece ser vítima de um radicalismo e de uma visão curta e superficial dos fatos que, amiúde, esbarra na mais clara injustiça.
A candidata do PSOL lembrou bem que operadores de caixa 2 como Marcos Valério – quem viabilizou o caixa 2 petista, o qual inventaram ser “pagamento de deputados para votar com o governo” – começaram a atuar no dito “mensalão tucano”. E até o caso do “aécioporto”, que envolve o próprio candidato do PSDB.
Contudo, para desmascarar Aécio, Luciana fez uma acusação injusta ao dizer que o partido “continuou o que o PSDB fazia”. Nesse ponto, aproprio-me da expressão apropriada que ela usou para rebater acusação do tucano de que estaria atuando como “linha auxiliar” do PT, apesar de o estar acusando:
Uma ova, Luciana Genro! O PT não faz o que o PSDB fazia.
Luciana cometeu um erro imperdoável ao ignorar que toda a corrupção – verdadeira ou não – de que membros do PT foram acusados ao longo de seus 12 anos de governo só foi investigada, julgada e punida graças ao mesmo PT, que, à diferença do PSDB, não aparelhou os órgãos de controle que fizeram as denúncias darem em alguma coisa.
Comecemos pela Procuradoria Geral da República, como é óbvio que tem que ser. Afinal, Luciana citou o caso da compra de votos para aprovar no Congresso a emenda constitucional que permitiu a FHC disputar a própria sucessão em 1998 e essa vergonha não foi apurada justamente devido à PGR de então.
Se no tempo de FHC houvesse na PGR um procurador-geral como os que o PT indicaria ao chegar ao poder, o próprio ex-presidente seria condenado por ter o “domínio do fato” de um escândalo que o beneficiou pessoalmente. Contudo, o ex-presidente tucano nomeou para o cargo o primo do então vice-presidente da República, Marco Maciel.
Geraldo Brindeiro, ex-procurador-geral da República, primo do vice de FHC, ficou OITO ANOS no cargo e sua atuação foi tão escandalosamente parcial em prol de quem o indicou que ficou conhecido como “engavetador-geral da República”. Em todo o seu tempo à frente da PGR, não incomodou uma só vez o governo que o indicou.
Durante o período de Lula na Presidência, tudo mudou. A começar pela PGR. Em primeiro lugar, enquanto FHC manteve um só procurador-geral por 8 anos, no mesmo tempo de governo Lula nomeou TRÊS PGR’s. O terceiro, Antonio Fernando de Souza, inclusive, foi quem literalmente massacrou o PT ao fazer ao STF a denúncia do mensalão.
O quarto PGR de Lula terminou o serviço. Roberto Gurgel, de longe, foi quem não apenas aprofundou o massacre ao PT, mas acobertou os inimigos mais figadais do partido, os tucanos, a favor dos quais engavetou, por exemplo, o escândalo de Carlinhos Cachoeira, envolvido até o pescoço com o atual governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo.
Eis que Dilma Rousseff nomeia Rodrigo Janot como procurador-geral da República, o mesmo Rodrigo Janot que está prejudicando fortemente a campanha eleitoral de quem o nomeou.
Não entrarei no mérito das últimas medidas do primeiro PGR nomeado por Dilma contra o partido dela – retirada de site petista do ar e pedido de suspensão de críticas legítimas de Dilma à campanha de Marina. Mas o que tem feito Janot mostra que Dilma usou critérios republicanos para nomeá-lo, assim como Lula. Bem diferente do que fazia FHC.
Autonomia da Polícia Federal é outra diferença esmagadora dos governos federais do PT (2003-2014) para os do PSDB (1995 – 2002). Todas as denúncias contra o PT foram apuradas pela PF com toda a liberdade. Inclusive, o último escândalo do qual acusam o partido, o da Petrobrás, só existe porque Dilma e Lula permitiram à PF trabalhar livremente.
E não vamos nos esquecer, claro, de todos os ministros do STF que Lula e Dilma nomearam e que ajudaram a produzir uma injustiça no julgamento da Ação Penal 470 que um dos membros daquela Corte, Ricardo Lewandowski, chegou a denunciar.
Assim tem sido com todos os outros órgãos de controle sob responsabilidade da Presidência da República desde 2003. Será então, meu Deus, que Luciana Genro não enxerga nada disso?! Se diz que o PT continuou fazendo o que o PSDB fazia, não enxerga. Ou o que é pior: enxerga, sim, mas finge que não.