Publicado no Portal Anarquista –
“Somos uma padaria autogestionada. Aqui não há chefes. funcionamos de forma colegial e realizamos uma assembleia todos os quinze dias em que decidimos o que vamos fazer. Todos temos o mesmo salário de 1.350 euros por mês e a mesma distribuição de lucros”, explica Pierre Pawin, impulsionador desta cooperativa peculiar.
A Conquista do Pão nasceu há três anos em Montreuil, antigo feudo do Partido Comunista próximo de Paris, governado hoje pelos ecologistas. Vários militantes anarquistas decidiram passar da teoria à prática e criar um negócio autogestionado.
Como nome para a loja escolheram La conquête du pain (A Conquista do Pão), uma homenagem à obra homónima do anarco-comunista do século XIX Pedro Kropotkine. E como logotipo uma silhueta extraída de “A liberdade guiando o povo“, de Delacroix, em que a personagem do lenço troca as pistolas por uma baguete.
“Eu era informático e não tinha nenhuma formação como padeiro. Um dia Pierre chamou-me e disse-me: há dez anos que me falas de alternativas. Vou montar uma padaria, vem trabalhar connosco”, comenta Thomas, que deixou o seu emprego numa escola empresarial para começar a amassar “baguettes”.
Três anos depois a padaria é rentável, transforma duas toneladas de farinha por semana e emprega nove pessoas, dos quais dois são aprendizes. Thomas não se arrepende por ter-se juntado a esta iniciativa que assume o destaque de La Fraternelle, uma padaria autogestionada que nasceu no início do século XX e que desapareceu noventa anos depois.
“Sinto-me aqui muito melhor. Sei proque faço as coisas, ainda que fisicamente seja muito, muitissimo mais duro”, confessa, enquanto ensina um estudante a preparar um creme de chocolate.
Fabricam os seus próprios produtos, até 35 referências artesanais que dão prioridade aos produtos biológicos e identificam as suas sandes e menús com nomes revolucionários e históricos: “O Bakunin”, com atum e cebolinho; “O Durruti“, com frango, queijo e caril; “O Marx” com presunto cozido e queijo emmental…
Se o cliente declarar que atravessa dificuldades económicas tem direito automático a um “preço de crise”.
“Basta pedir um cartão na padaria que dá acesso a uma redução. Nos produtos de primeira necessidade, a redução é de 25 por cento. No resto, de dez por cento. A “baguette” custa um euro e com a redução fica em 75 cêntimos”, resume Pierre.
As pessoas sabem que é uma padaria anarquista e vêm porque o pão é bom e somos agradáveis”, sentencia Pierre.
Por agora estes empresários ácratas não repartem os dividendos e utilizam os lucros a pagar os empréstimos, a aligeirar a jornada de trabalho e a financiar novas contratações.
Longe dos ideais utópicos em grande escala, aspiram a que o seu negócio se mantenha debaixo dessa fórmula solidária de repartição da riqueza e de poderem continuar a criar empregos.
“Acreditar que vamos mudar a sociedade graças à autogestão? Seria como pensar que vamos mudar o mundo com uma bicicleta”, resume Pierre.
Agências