Por Paulo Costa Filho, especial para a agência Saiba Mais –
O burburinho começou lá pelo fim de novembro. Máquinas retroescavadeiras entraram e passavam o dia no vuco vuco de tirar e levar a terra. O alarme de ré das máquinas alertavam, mas também enchiam o saco. Mal sabia que ainda haveria três meses pela frente nessa grande obra de infraestrutura brasileira. Ao final de novembro, o Brasil registrava mais de 170 mil mortes por Covid.
Desde então, o trabalho do Exército Brasileiro foi diligente em construir o que viria a ser uma praça na sua vila de oficiais no batalhão do Tirol, bairro central de Natal. Inicialmente parecia apenas um arremedo de uma ‘promenade’ sobre barro, uma melhoria simplória em um terreno baldio, aproveitando uma hora ou outra vaga de máquinas da tropa. O meu ego ciclista até imaginou um pista de bicicross pra criançada. Desejava um futuro olímpico para os nossos pequenos. Um dos caminhões pintados de guerra até atolou por lá, dando a dica que o percurso não seria fácil. Mas que legal pensar em ciclistas! Tá na moda, porém foi pura ingenuidade.
Toda semana era uma novidade e a coisa ia se sofisticando. Logo no início foi instalado um parque com brinquedos infantis em madeira. Armações, também em madeira, foram colocadas para dar sombra a bancos de praça. Quem sabe um dia, ganharão a beleza e a gostosa sombra de plantas trepadeiras. E um passeio começava a ser definido em forma de um oito, com a base mais gordinha, o que me levou a crer é uma digna homenagem ao ministro general Eduardo Pazzuelo, nosso digníssimo especialista em logística. A caminhada nos círculos concêntricos deve dar coisa de um quilômetro. Como não ser a praça do Zuzu? Vai que um dia ele vem perder peso em Natal.
Virou o ano, e com a nova folhinha veio aquela promessa de que tudo seria melhor. E o trabalho na futura praça seguiu diligentemente. Um dia chegou a ter 60 soldados operários em trabalho das 6 da manhã às 17 horas da tarde quase em todos os sete dias da semana. Cavaram dois buracos, construíram guias, colocaram tijolos um a um no passeio, moveram areia para todos os lados, soldados aguavam plantinhas até no domingo que um dia serão frondosas. [No dia 7 de janeiro, o Brasil ultrapassava 200 mil mortes registradas pelo Covid.]
Os buracos receberam duas piscinas de fibra. Uma pequena ‘pero no mucho’ para crianças e uma bem grande, talvez do tamanho GG das piscinas de fibra. Foram cobertas com plástico preto. O tempo e uma chuvinha ou outra do caju se encarregaram de levar areia pra cima dela. O plástico cedeu e a areia encheu a piscina. Diligentemente, os soldados operários retiraram água e areia com baldes. Mera intercorrência de uma grande obra de infraestrutura.
O curto e outrora carnavalesco mês de fevereiro estava para chegar e ainda faltava uma quadra. Alisares concêntricos dos soldados operários formatavam a glória de futuras disputas futebolísticas. Em seguida, viria o verde quase oliva da grama sintética.
O general da tropa ou os famosos superiores vieram visitar a magnânima obra por uma ou duas vezes. Conferiu o legado futuro a ser deixado como comandante do batalhão. Um séquito o seguia certificando o diligente trabalho em realização. [No dia 10/02, o Brasil completava cerca de 235 mil mortes registrada pela Covid.]
Mas ali nas piscinas estava meio estranho. Que tal umas “cortinas” para ver se esconde um pouco?, pensou o grande arquiteto. Seu desejo é uma ordem e cortinas foram colocadas. Quem sabe até para honrar o minguado carnaval.
A praça estava caminhando para o seu ‘grand finale’. Além do passeio e brinquedos de crianças, uma pequena quadra de vôlei com areia de praia, uma área que deve ser para churrascos. Na verdade, duas. E uma estrutura, imagino, de apoio para a piscina. Os soldados operários brasileiros, além de pintar guias de branco, agora tem o ‘know how’ de construir casas.
Ops, com quase tudo pronto, as piscinas não ornaram muito. Sim, os bravos soldados operários brasileiros cavaram em torno delas, levantaram as piscinas em seus braços, e mandaram embora. Foi só um detalhe, um lapso em tão magnânima obra. Os soldados operários agora jogam terra na cova que um dia cavaram. Tudo já está coberto. E retiraram a grande solução arquitetônica das cortinas.
Agora, deve estar faltando um detalhe ou outro. As ex-piscinas cobertas e cimentadas. A praça do Zuzu estará pronta depois de um diligente trabalho do Exército Brasileiro e seus soldados operários que até um dia desses construíam estradas afora, verdadeiras obras de infraestrutura. [No dia 25/02, o Brasil ultrapassava a marca de 250 mil mortes por Covid.]
“Os recursos são restos de orçamento. Se não usados, serão devolvido. Tem de gastar”, um amigo funcionário público explica. Fico contente que, em meio a batalhas inglórias em que o Brasil um dia possa enfrentar, o Exército Brasileiro seguirá o extremo mandamento de não matar. Em vez disso, os soldados operários brasileiros construirão praças, pavimentando o deleite, o ócio e o passo para a união dos povos!
Afinal, para isso é que servem os praças.
Ops, as praças!
[A praça vai ganhando seus retoques finais. No dia 16 de março, o Brasil registrou mais de 279 mil mortos por Covid 19].