Por necessidade profissional, tive que me programar para ir à cidade de #RibeiradoPombal, município de mais ou menos sessenta mil habitantes, no semiárido baiano, a cerca de duzentos e setenta quilômetros de #Salvador por vários trajetos e muitos caminhos. Não me lembro da última vez que passei por aquele pedaço de mundo, que dizem ter esse nome desde 1754 em homenagem ao padre do local na época, João Campos de Cerqueira Pombal, parente do Marquês de Pombal, o poderoso Primeiro Ministro de Portugal.
Por Antônio Carlos Aquino de Oliveira, compartilhado da Revista Nova Família
Está nos escritos da história, como nas prosas que por lá ouvimos, que o município se originou de uma aldeia dos índios cariris, que inicialmente chamada de Cana Brava, Santa Teresa de Canabrava, como era mais conhecida, meio de caminho para tropas e viajantes que seguiam em direção ao Rio São Francisco, dadivoso antes, agora e sempre.
Há 355 anos, por volta de 1667, os Jesuítas João de Barros e Jacob Roland, dessa famosa irmandade que fez muitas coisas pelos muitos cantos do Brasil, sempre no intuito de catequizar os brasileiros nativos, a quem chamavam de índios, construíram a capela de Santa Tereza D’Ávila, hoje Matriz Velha de Santa Teresa.
Ribeira do Pombal faz parte da memória do Brasil com muitas histórias, desde os latifúndios dos tempos dos Coronéis, no século XIX, à passagem da Coluna Prestes, em 1926, e Lampião, em 1929.
Tenho por hábito, em minhas viagens a trabalho, conciliar o ver para aprender com fazer o que tem que ser feito
Para evitar o desgaste de viajar 600 km em um único dia, deixei a volta para o dia seguinte. Na ida fui por um caminho e voltei por outro, diferente. O roteiro foi assim: Saí de Salvador dia 23 de março de 2022, às 09h30. Às 10h30 eu já estava passando por São Sebastião do Passé, às 10h50 por Catú, às 11h20 por Alagoinhas – capital baiana das cervejas –, ao meio-dia atravessei Inhambupe, e meia hora depois eu estava no povoado de D. Maria, distrito de Olindina, onde parei para almoçar em um boteco à beira da estrada. Quem está acostumado a viajar pelos sertões come o que tem onde acha, quando a fome aperta.
Hoje estamos mais exigentes para lugares e comidas, certas condições são indispensáveis, como limpeza, higiene e um saborzinho de comida de casa. Por dezessete reais fiquei satisfeito, com um ensopadinho de carne bovina e uns pedacinhos de galinha de quintal acompanhados dos tradicionais feijão, arroz, macarrão, farinha, pimenta e salada. Satisfeitos os desejos, segui.
Às 13h10 passei pela sede de Olindina, às 13h25 por Nova Soure, às 13h40 por Caldas do Cipó, uma cidade digna de outros estudos por parte dos leitores para maiores conhecimentos. Uma terra do já teve. Teve até Cassino, já foi visitada por Getúlio Vargas, já teve glamour e dinheiro e ainda tem de pé aquele que foi um dos maiores e melhores hotéis da Bahia – o Grande Hotel de Caldas de Cipó.
Às duas horas da tarde cheguei em Ribeira do Pombal, onde trabalhei até às 15:40. Com a saudável sensação de dever cumprido deixei a cidade em direção a Caldas do Jorro, onde havia planejado passar a noite. Às 16h00 passei por Tucano e, às 16h15, já estava fazendo a ficha de pouso no velho e conhecido Hotel do Jorro.
Cabe aqui uma pausa para falar do Jorro
Desde a minha infância eu conhecia Caldas do Jorro, uma estância hidromineral que fica a 245 km de Salvador, onde águas termais medicinais brotam da terra com a temperatura de 48 graus Celsius e fazem a alegria dos idosos da Bahia, do nordeste, do Brasil e até do mundo. Jovens nativos e turistas também aproveitam, mas é a terceira idade que faz a festa. Como tinha muito tempo que eu não ia lá, me impressionou a quantidade de novas pousadas e hotéis, bem como bares e restaurantes.
A essência do lugar continua a mesma, coisas novas e velhas. O lugar não tem glamour ou charme, tem a dádiva da natureza: a sua água medicinal. É um turismo sem vaidades, do simples ao brega, humano, de cuidar da saúde para quem aquelas águas são um santo remédio. Os tradicionais mingau e milho assado na praça do banho público, sem restrições. Já tem até acarajé e açaí por lá. Todos desfilam e se expõem sem pudor e julgamentos.
Caldas do Jorro ainda é um Distrito de Tucano, e suas águas sulfurosas, a 48 graus, são oriundas de dois lençóis freáticos distantes 1.861,41 metros da superfície, com vazão diária permanente de 3.170.600 litros de água potável, mineral, alcalina. As fontes são resultantes de perfurações feitas pelo Governo em busca de petróleo, isso lá pelos idos de 1948, e até hoje as águas quentes jorram sem parar.
Um oásis no sertão baiano, é como se referem os orgulhosos nativos ao lugar cujas águas afirmam ter propriedades terapêuticas e curativas para doenças alérgicas, dermatoses reumáticas, gastrointestinais, dispepsias, gastrites, colites, prisão de ventre, doenças do fígado e dos rins, gôta, acne, furunculose e parasitoses da pele. Evidentemente, quem tem médico, deve consultá-lo antes. Alguns dizem que é a melhor fonte de água do Brasil, comparável às melhores do mundo, como a de Vichy, na França, cuja temperatura é de apenas 36 graus Celsius.
Visitar o lugar no inverno é a melhor opção, pois estamos falando de Sertão da Bahia. No auge do verão o Sol é o astro rei e o calor a marca registrada.
Após muitos banhos, intercalados com o prazer de saborear um carneiro assado na brasa com farofa d’água, dormi o sono dos justos
Às 8h30, após o café da manhã e mais um banho, iniciei minha viagem de volta, passando pelo Povoado de Tracupá, comunidade que vive de beneficiamento e produção de artigos de couro, como bolsas, carteiras, sandálias, mochilas, chaveiros, chapéus, bonés, selas e artigos para a lida do campo. Às 09h50 passei por Arací, às 10h10 por Teofilândia, às 10h30 por Serrinha, às 11h00 por Santa Bárbara – terra do requeijão –, às 11h30 por Feira de Santana e às 13h00 já estava em Salvador.
Viajar de carro pelo interior, seja dos estados nordestinos, pelas minhas Minas Gerais, seja pelos estados do Sul é estar em salas de aulas vivas, dinâmicas e reais, cursos intensivos de sociologia, geografia, administração, topografia, botânica, agronomia, geologia e tudo o que a liberdade de ir e vir, de ver e pegar, de sentir e pensar permite.
Quem se dispõe a viajar pelo interior do Brasil precisa se despir de vaidades e espírito crítico – julgadores, dos orgulhos e das auto- limitações. É preciso abrir o coração para o novo e o inesperado, para o feio e o deslumbrante, ter olhar de curioso, espírito de desbravador, generosidade de um devoto apaixonado por Nossa Senhora da Natureza, extensão física da divindade.
Cabe por fim, sem perder a verve de Administrador, chamar atenção para a espetacular oportunidade que tem sido perdida pelas lideranças políticas e empresárias desse municípios, estados e país com as estâncias hodrominerais brasileiras. A falta de planejamento, manutenção e cuidados estão deixando o Jorro e o Jorrinho feios, mal aproveitados, afastando alguns públicos que deviam serem atraídos. Essa verdade acabou com Dias D’Ávila e Cipó, tem gerado decadência em Itaparica e Tororomba na Bahia, Mossoró no Rio Grande do Norte, Salgado em Sergipe, Caldas Novas em Goiás, Bonito no Mato Grosso.
Um país rico precisa de investimento e uso inteligente dos seus recursos. A exploração predatória e depredatória é anti – econômica, pouco inteligente e irracional.
Antônio Carlos Aquino de Oliveira é administrador, especializado em marketing estratégico. Palestrante e consultor dos setores público e privado, é autor de dois livros e colunista da Revista Nova Família