Por Luiz Antonio Simas, Facebook –
É impressionante como me vejo repetindo o mesmo mantra: o fundamento da segurança pública no Brasil , ao longo da nossa história, simplesmente nunca mudou: política de segurança pública no Brasil é a forma articulada pelo estado para manter os pobres sob controle social e, eventualmente, fazer guerra de extermínio quando esse controle se encontra sob ameaça.
A Polícia Militar do Rio de Janeiro foi criada por D. João, no início do século XIX, em um contexto em que a revolução dos pretos do Haiti apavorava, pelo poder de inspirar movimentos similares, as elites do Brasil. A função original da polícia era, não nos enganemos com os discursos e documentos oficiais, defender a propriedade e as camadas dirigentes contra as “gentes perigosas e de cor”. Guerra aos pretos e pobres, em suma.
Não custa lembrar que o símbolo da PM/RJ traz um pé de açúcar, um pé de café, duas armas e a coroa imperial, Mais explícito é impossível: braço armado em defesa da propriedade e do poder instituído.
Sou dos que acham, a partir disso, que não adianta dotar esta polícia de um suposto “perfil cidadão” ensinado em algumas aulas. A PM foi criada para matar e morrer e nesse sentido é uma das instituições mais bem sucedidas do Brasil: mata e morre. É essa a PM – é terrível constatar isso – que a maioria do Brasil quer: a que passa fogo.
A única solução para a PM (com uma soldadesca de maioria pobre e preta, algoz e vitimada também por essa titica toda, com filhos estudando em escolas públicas, como aquela em Acari em que morreu metralhada a menina Eduarda) é a extinção/refundação.
Não creio em reforma ou coisa do tipo. Como fazer isso? Não sei; mas é necessário discutir a questão com a maior urgência, acompanhada do franco debate sobre a estupidez da guerra contra as drogas, a mais comum justificativa para a prática genocida que mata gente pobre dos dois lados.
Insisto em um ponto: a discussão sobre o que deu errado na polícia parte de um pressuposto equivocado: o problema das policias militares não é ter dado errado. É até hoje ter dado muito certo.