Uninove demite professores por mensagem automática na internet e revolta alunos

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Por Giovanna Galvani, compartilhado de Carta Capital

(FOTO: REPRODUÇÃO)

Professores da Uninove (Universidade Nove de Julho) foram surpreendidos na segunda-feira 22 ao serem demitidos por uma mensagem de pop-up no portal da universidade, que anunciava o desligamento de centenas de profissionais antes do semestre letivo ser encerrado e pedia, contra a legislação trabalhista e no meio da pandemia, o recolhimento das carteirinhas dos planos de saúde.




Até o fechamento dessa reportagem, a Uninove não havia informado o total de professores dispensados e não tinha respondido os questionamentos feitos por CartaCapital. Relatos internos que correm entre professores e alunos, no entanto, especulam um número entre 300 e 500 professores, incluindo profissionais mais velhos e recém-contratados.

O anúncio foi disparado em massa para os professores afetados, que eram corpo discente de diversos cursos oferecidos pela instituição. No recado, a faculdade anuncia a demissão sem o cumprimento de aviso prévio e pede para que os profissionais devolvam, em 72h, crachás, cartões de acesso, carteirinha de plano de saúde e equipamentos fornecidos pela faculdade para que professores pudessem dar aulas online devido a pandemia de coronavírus, como aparelhos celulares e um chip com acesso à rede 4G.

 

Uma professora que preferiu não se identificar afirmou que o sistema no qual os profissionais se comunicavam com a coordenação e os alunos começou a falhar cedo, juntamente com a pressão para que as notas do semestre fossem rapidamente computadas.

“Sem nenhum aviso, sem nenhum porque, sem ninguém fazer uma reunião, a coordenação comentar ou falar qualquer coisa, nós abrimos a plataforma e a primeira coisa que tinha era o pop-up, e depois eu fui ver que tinha um e-mail do pessoal do RH falando a mesma coisa”, relatou a profissional.

Ela também conta que, com medo de perder o prazo de 72h estabelecido e sofrer sanções em sua rescisão, se dirigiu ainda ontem para o campus Vergueiro, na zona central de São Paulo, e encontrou uma fila de professores demitidos, mas nenhum profissional da faculdade respondendo dúvidas ou dando suporte além dos funcionários de recursos humanos.

“Já fui lá, e na fila, que eu estava, tinha um professor que tinha 23 anos de Uninove. A demissão foi da mesma forma. Eram só os atendentes da área de RH, pegando nossa carteira profissional e fazendo um protocolo pra nós – já recebi um e-mail dizendo que minha carteira estava cancelada.”, descreve.

O Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinprosp) afirmou, em nota, que está recebendo dados dos professores demitidos para enviar uma cartilha de direitos básicos nesse momento, incluindo a orientação de não devolvimento da carteirinha de saúde.

“A Uninove é obrigada a manter o plano de saúde durante trinta dias a contar da comunicação de dispensa, nas mesmas condições contratuais vigentes. Ela também deveria ter informado aos professores que eles podem optar por permanecer no plano por um determinado período, depois de encerrados os trinta dias, desde que se comprometam com o custo integral da assistência médica.”, diz o Sinprosp.

Para os alunos, os coordenadores afirmaram que a última semana letiva teria palestras motivacionais ao invés das aulas. “Falta uma semana para começar as férias, mas a coordenação disse que teria aula normal porque é semana de fechamento de notas. Entramos na aula e nos deparamos com uma palestra sobre empoderamento. Não demorou muito para algum professor soltar o comunicado que recebeu da Uninove dizendo que estava sendo dispensado.”, relatou uma estudante da faculdade, que também não preferiu se identificar.

Alguns alunos receberam e-mails das coordenações com explicações sobre o fim do semestre e com a computação das notas, incluindo aqueles que não haviam sido processadas devido ao acontecimento repentino.

Os responsáveis pelo curso de psicologia escreveram, ainda, que “o momento é difícil para todos nós da comunidade acadêmica” e que a notícia foi recebida com tristeza. “Agradecemos as mensagens de solidariedade encaminhadas por todos os estudantes. Juntos vamos superar tudo isso”, diz o recado. Outros relatos dão conta de coordenadores que se diziam “arrasados” com a situação.

 

Em protesto, estudantes criaram um abaixo-assinado online para pedir a revisão da medida, classificada por eles como uma “enorme falta de empatia e total desrespeito da pessoa.”, diz o texto. “Ainda pedimos [para] reconsiderar, onde possível, as demissões das professoras e dos professores, e reintegrá-los, se for pelo menos de jeito parcial, no corpo dos docentes.”, escrevem.

“Entendemos que nessa situação que a gente está vivendo, cortes são necessários. Porém, dessa forma não.”, opina outra estudante. Nas redes sociais, os relatos contra a instituição também se repetem.

Para o Sinprosp, a situação econômica gerada pela pandemia não é a única justificativa possível ao se considerar o histórico da universidade, que “tem passado por um processo de reestruturação interna que se acentua cada ano”, escrevem.

“Vale lembrar que em dezembro de 2019, o MEC autorizou a ampliação de aulas a distância nos cursos de graduação em 40% e a Uninove tentou aplicar essa mudança já no início de 2020. Entretanto, os professores tiveram seus direitos garantidos por ação imediata do SinproSP, ao denunciar a instituição, orientar os professores a não assinarem carta de redução do número de aulas e levar o problema ao Foro de Conciliação de Conflitos Coletivos. Mais do que a pandemia, é possível que as demissões de agora sejam a continuidade desse processo cruel que visa reduzir custos com a folha de pagamento e ampliar, tanto quanto possível, as margens de lucro.”, diz o Sindicato.

Para a professora dispensada, a sensação é de que será necessário correr atrás, como de praxe, de se reinserir no mercado. A voz embargada, no entanto, demonstra o significado da dispensa em um momento de incertezas. “É, assim… eu tô bem. Fiquei chateada, lógico. Mas tá bom. Eu consigo outro. Tem que ir atrás.”

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