Por Oscar Valporto, compartilhado de Projeto Colabora –
Ferramenta da Unila permite que população siga informações como número de casos e óbitos e sua relação com as decisões das autoridades
A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) disponibilizou um painel de acompanhamento dos casos de Covid-19 em Foz do Iguaçu, que pode ser acessado a partir do portal da instituição. Através de dados abertos – aqueles que estão disponíveis para qualquer cidadão –, o painel apresenta um histograma, um gráfico de média móvel e uma linha do tempo com as principais decisões e ações do município no enfrentamento da Covid-19, desde março deste ano. As informações utilizadas na elaboração dos gráficos foram obtidas no site da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu. Os pesquisadores analisaram, principalmente, os boletins epidemiológicos diários com os números oficiais de casos da doença. Também foram avaliados decretos e notícias relacionadas à Covid-19. O gráfico traz o número total de casos, o de casos ativos (pessoas com a doença) e o de óbitos.
A Vigilância Epidemiológica de Foz do Iguaçu confirmou nesta quinta-feira (16/07) mais 168 casos de covid-19 no município, o maior número em 24h desde o início da pandemia: no total, a cidade registra 2.168 casos da doença. Foram 99 mulheres e 69 homens diagnosticados, com idades entre 6 meses e 78 anos. Dos 45 leitos de UTI disponíveis em Foz de Iguaçu, 42 estão ocupados e somente três disponíveis. A cidade, na fronteira com Paraguai e Argentina, já registrou 20 mortes pela covid-19. A prefeitura estabeleceu toque de recolher no bairro do Morumbi, considerado epicentro da doença no município. O Paraná é um dos estados com avanço mais acelerado da pandemia: chegou, na quinta, a 48,863 casos e 1227 mortes.
Na área sombreada do painel desenvolvido pela Unila, é possível visualizar o conjunto de medidas implementados pela prefeitura, eventos importantes, feriados e resultados de inquéritos sorológicos, entre outros dados. Clicando sobre as datas, é possível visualizar dados específicos relacionados àquele dia – número de casos acumulados, os novos casos, casos ativos e óbitos – e, ainda, se houve alguma ação implementada.
O painel mostra, por exemplo, que no inquérito sorológico do dia 14 de maio o índice de pessoas que tiveram contato com o vírus, em Foz do Iguaçu, era de 4% e que, em 24 de junho, esse índice chegou a 28%. “A gente costuma ver os gráficos sempre isolados das informações. A nossa intenção ao fazer o gráfico foi oferecer às pessoas um panorama mínimo das informações. Nosso objetivo é que a pessoa sozinha consiga olhar esse histórico recente e acompanhar. E como o gráfico é interativo, ao clicar nas bolinhas de cada curva, são abertos pop-ups com mais informações”, comenta Elaine Della Giustina Soares, professora da Unila e coordenadora do trabalho.
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No gráfico, as ações estabelecidas por decreto somente foram acrescentadas no dia de sua implementação, e não no dia da publicação do documento. Essa é a mesma metodologia utilizada para o caso de aquisição de equipamentos ou liberação de mais leitos: somente foram incluídos no gráfico no dia em que começaram a ser usados ou estavam disponíveis para uso. “Fica mais fácil de entender o que aconteceu. Ajuda a sintetizar os eventos”, diz Elaine. Outra informação que consta no gráfico é a do período provável de infecção para os casos confirmados. O número de casos publicados no Boletim Epidemiológico para um dia específico se refere a infecções adquiridas no intervalo entre 10 e 20 dias antes da confirmação.
Média Móvel
O grupo de trabalho que desenvolveu o painel optou por incluir, também, a média móvel dos casos de Covid-19 na cidade. A média móvel é calculada a partir de medidas sequenciais. No caso, a medida é de cinco dias, o que seria suficiente para captar o cenário de curto prazo. “O que a média móvel faz? Em alguns dias, os números de casos ativos notificados variam muito, para cima, ou para baixo, da tendência geral. A média móvel consegue equilibrar. Pode ser que o resultado do exame demorou muito pra sair ou que não tenha dado tempo de contabilizar todos os casos no boletim daquele dia. A média móvel corrige isso. E ela é exponencial: não é pegar cinco dias e dividir por cinco. Cada dia tem um peso diferente e, quanto mais recente, o peso é maior”, explica Elaine.
O professor Luiz Roberto Ribeiro Faria Junior, que também trabalhou na estruturação do painel, explica que a vantagem da média móvel é que ela consegue corrigir eventuais desvios que possa haver de um dia para o outro em razão de dificuldades no processo de organização das informações. “Por ser um problema epidemiológico, os valores mais recentes devem ter mais peso, é aquilo que está acontecendo mais próximo”, diz. “Na minha opinião – e isso é questão de interpretação –, o valor da média móvel oferece uma ideia de tendência maior que leituras isoladas”, diz.
O trabalho de construção do painel teve início em maio e é o segundo estudo do Grupo de Trabalho de Projeções da Unila a ser divulgado. A equipe reúne profissionais e pesquisadores das áreas de Saúde Coletiva, Medicina, Epidemiologia, Biologia, Comunicação, Geografia, Física e das Engenharias. Com os estudos, o GT pretende fornecer informações científicas à população de Foz do Iguaçu e auxiliar na tomada de decisões das autoridades do município. O GT de Projeções faz parte de uma das nove ações institucionais de enfrentamento da Covid-19, promovidas pela UNILA com o apoio da comunidade externa.