Moradores de comunidades rurais denunciam que estão sendo obrigados a deixar suas casas devido à forte presença de agrotóxicos, disparados a poucos metros das suas residências
Por Walber Pinto, editado por André Acarinni e compartilhado de CUT
Em dois anos, o número de equipamentos, entre eles os drones, registrados na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para a disseminação de agrotóxicos aumentou quase 10 vezes no Brasil. O salto foi de 674 para 7.312 entre janeiro de 2023 e janeiro de 2025. Agora, o uso dos drones já é realidade em 26 estados no país.
Trabalhadores e trabalhadoras rurais têm denunciado o uso indiscriminado de veneno e suas consequências como danos à saúde e ao meio ambiente. As ações com uso de disparo de agrotóxicos são consideradas pela CUT e por entidades que defendem os agricultores como tentativas de expulsão das comunidades tradicionais.
“É uma forma violenta de tentar expulsar e intimidar as populações e comunidades para que deixem suas terras”, afirma a secretária nacional de Meio Ambiente da CUT, Rosalina Amorim.
A dirigente afirma que os governos das três esferas têm como dever proteger essas populações rurais e indígenas dos efeitos dos agrotóxicos e das agressões relacionadas à disputa fundiária.
Ataque com agrotóxicos é diário
Não é de hoje que os ataques contínuos de fazendeiros com o uso de agrotóxicos vêm deixando as comunidades rurais e quilombolas preocupadas no Brasil.
Em dezembro de 2024, foi divulgado um relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), órgão ligado à Igreja Católica, mostrando que cresceu o número de disparos de veneno por aviões para atingir moradores em áreas tradicionais de regiões de conflito.
Segundo o levantamento, foram 182 registros em seis meses, o que dá uma média de um ataque por dia. O número é quase 10 vezes maior do que em 2023, em que houve 19 ataques.
Os dados também ultrapassam os ataques dos primeiros semestres dos anos de 2015 a 2023, quando foram registrados 122 casos.
Saúde
Além da contaminação de rios e plantações, trabalhadores de comunidades rurais têm sido obrigados a deixar suas casas por causa da forte presença de agrotóxicos no ar. As pulverizações do veneno nas comunidades rurais causam sérios problemas de saúde nos agricultores rurais e danos ao meio ambiente.
“Geram consequências ao meio ambiente e à saúde como a contaminação dos rios, lençóis freáticos e do ar”, diz Rosalina Amorim .
Os agrotóxicos de uso agrícola ou veterinário são venenos que causam intoxicação e doenças e são usados, especialmente, pelo agronegócio, em grandes áreas de monocultura. Nós, da CUT, denunciamos que esse modelo de produção é principalmente destinado à exportação e não para garantir a segurança alimentar de nossa população- Rosalina
A CUT, que faz parte da “Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida”, atua com diversos movimentos sociais em defesa da reforma agrária e de um modo de produção de alimentos que garanta a segurança e soberania alimentar, com respeito a população e ao meio ambiente, como por exemplo a agroecologia.
Uso indiscriminado
Com o avanço de drones agrícolas e o uso indiscriminado de agrotóxicos, trabalhadores e trabalhadoras das comunidades têm apresentado problemas de pele, enjoos, dificuldades respiratórias, câncer, entre outras patologias. Por outro lado, além dos danos ao meio ambiente com a contaminação de rios e nascentes, há perda de produção agroecológica.
De acordo com um levantamento feito pela agência Deutche Welle (DW), eram 18 os estados com registros na Anac para pulverização aérea de agrotóxicos, com a presença de drones agrícolas. Agora já são 26 unidades da federação cadastradas, ou seja, todo o país.
Foi a partir de 2021, no governo de Jair Bolsonaro (PL), que uma portaria 298/21 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) permitiu a utilização de drones, com regras para operadores e equipamentos.
Para manejá-los, de acordo com a portaria, é preciso cadastrar os drones na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e realizar um curso.
A aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a menos de 20 metros de povoações não é permitida. No entanto, as comunidades denunciam que os equipamentos têm sido utilizados de forma irregular, desrespeitando o limite de 20 metros das residências e plantações. Movimentos sociais denunciam que o perigo é real.
Drones causam 94% das contaminações por agrotóxicos no MA
Levantamento divulgado pela ONG Repórter Brasil, publicado pelo UOL, apenas no início deste mês 228 comunidades em 35 municípios do Maranhão denunciaram contaminação por pesticidas até outubro de 2024. Em 94% dos casos a pulverização foi feita por drones.
Comunidades rurais doestado afirmam que drones estão sendo utilizados como instrumento de intimidação e de expulsão de agricultores familiares. As denúncias, porém, não são investigadas, segundo advogados que acompanham os casos.
As localidades onde há forte presença do agronegócio sofreram os aumentos mais expressivos no uso de agrotóxicos. Ainda no estado do Maranhão, o número de cadastros disparou de um para 104. No Mato Grosso do Sul passou de dois para 103 drones. O Ceará, que não tinha nenhum, hoje tem quatro cadastros. Também passaram a ter registros de drones o Acre, Amazonas, Paraíba, Piauí, Roraima, Rio Grande do Norte e Distrito Federal.