Do Jornal da USP, compartilhado de Projeto Colabora –
Professor da USP explica que já estão sendo testadas diferentes técnicas para desenvolver imunização. Fórmula chegaria em 18 meses
Recentemente, pesquisadores da USP conseguiram sequenciar, isolar e cultivar o coronavírus covid-19 em laboratório. Agora, agências de regulação, governos, pesquisadores e indústria farmacêutica estão trabalhando juntos para criar uma vacina em tempo recorde, com base em DNA, mRNA e em proteína recombinante do vírus, a fim de expandir a prevenção contra a doença.
O Jornal da USP no Ar (link abaixo) conversou sobre o assunto com o professor Helder Nakaya, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, que também é integrante da Comissão de Ensino da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI). Ele conta que as vacinas estão no começo da fase de testes em humanos, para averiguar questões de segurança e também a capacidade da vacina de gerar anticorpos.
A estimativa é que dentro de um ano e meio a vacina possa ser disponibilizada no mercado, o que seria muito rápido na avaliação do professor, uma vez que o desenvolvimento dessas pesquisas é complexo. Ele explica que várias empresas internacionais estão empregando diferentes tecnologias para desenvolver uma forma de imunização contra o covid-19, inclusive se valendo do mRNA: “A vacina tenta preparar o sistema imunológico a responder a uma possível infecção. Então podemos usar vírus atenuados no seu desenvolvimento, mas também existe a possibilidade de usarmos pedacinhos de vírus em uma proteína recombinante que induz a uma resposta imunológica”.
“Já há empresas e instituições muito perto de concluir a primeira etapa da produção de uma vacina que é demonstrar a segurança e o potencial imunogênico da vacina, através de testes de laboratório”, Professor Helder Nakaya, da USP.
No Brasil, pesquisadores da USP já estão estudando formas de desenvolver as vacinas à base de mRNA, contando com a orientação de especialistas internacionais. Nakaya ressalta que “é difícil avaliar se depois que a vacina chegar ao mercado ainda haverá uma epidemia e se a vacina vai funcionar”, mas ele acredita que o desenvolvimento será em tempo recorde, dada a mobilização mundial em relação ao tema.
O professor explica que já existem laboratórios oficiais, empresas e instituições de pesquisas trabalhando para desenvolver vacinas nos Estados Unidos, na China e na Europa. “Já há empresas e instituições muito perto de concluir a primeira etapa da produção de uma vacina que é demonstrar a segurança e o potencial imunogênico da vacina, através de testes de laboratório. Esta etapa inicial está sendo concluída após quatro a seis semanas de trabalho o que já é um recorde”, explica o imunologista.
A fase seguinte – mais demorada – é o teste em grupos de seres humanos e tem por objetivo principal demonstrar a segurança da vacina. “Pela rapidez com que as pesquisas estão avançando, esses testes poderiam ser realizados em três ou quatro meses, uma fase que durou, pelo menos, o dobro do tempo no desenvolvimento de outras vacinas”, explicou Hélio Nakaya ao Jornal da USP no Ar, podcast da publicação.
As próximas fases, já em grupos maiores, são para estabelecer a imunogenicidade da vacina, ou seja, sua capacidade de provocar uma resposta imune, como o desenvolvimento de anticorpos anti-medicamentos biológicos pelo sistema imune do paciente e, depois, a última fase, antes da obtenção do registro, para demonstrar a eficácia da vacina. “Como há muita gente trabalhando, com diferentes técnicas, estamos prevendo que a vacina possa ser produzida daqui a um ano e meio a dois anos, o que seria realmente um recorde”, afirma Nakaya.
O professor alerta, entretanto, que o desenvolvimento da vacina, embora muito rápido, talvez não seja útil para conter a atual pandemia. “Quando a vacina para o Ébola finalmente ficou pronta, após todas essas fases, o surto já havia passado”, recorda. Hélio Nakaya concorda que ainda é cedo para afirmar quando será o pico da epidemia de coronavírus que está se espalhando pelo mundo. “Devemos considerar que grande parte da população será infectada e que os governos estão trabalhando para tentar evitar uma sobrecarga nos sistemas de saúde”, alerta o imunologista.