Ana Lúcia Azevedo, jornalista especializada em ciência em sua página no Facebook

O Reino Unido começou hoje a vacinar contra a pandemia. E em que ponto estamos? Assistimos os britânicos serem imunizados trancados na terceira classe do Titanic. Está em curso o mais do que antecipado salve-se quem puder mundial na disputa pelas vacinas e o Brasil afunda com o navio, isto é, com a pandemia, que aqui nada de braçada.

Poderíamos estar em lugar muito melhor, com o resgate à vista. Poderíamos porque somos a terra do coronavírus, que aqui come solto, circula como bem entende. Isto nos faz o lugar ideal para testar vacinas e assim ter posição privilegiada na obtenção dos imunizantes.

Por que a China, tão ofendida durante o governo Bolsonaro, ainda se digna a querer testar aqui alguma coisa?

Porque nos transformamos num paraíso de vírus, terra de cobaias e vacinas só podem ser realmente testadas se o vírus circular.

Poderíamos ao menos ter feito alguma limonada do limão pestilento. Nem para isso houve competência e interesse.

Testamos somente quatro das 12 vacinas em fase três.

O governo federal inexplicavelmente colocou todas as fichas numa só vacina: a da AstraZeneca/Oxford. Esta se enrolou toda na apresentação dos dados, tentou transformar erro em êxito via press release e agora terá que comprovar com dados sólidos suas afirmações de segurança e eficácia.

Um apego como esse nem o Reino Unido, pátria do dito imunizante, teve. Tanto que começou com a Pfizer/BioNTech.

Agora corremos atrás da Pfizer/BioNTech. Mesmo que chegue, não bastará e não será para todos. Não é só questão de freezer superpoderoso. É de rede elétrica para ele funcionar e estrada decente para o frágil imunizante de mRNA atravessar.

São Paulo correu por fora e tem uma das vacinas chinesas. A CoronaVac pode não ser a mais sofisticada das vacinas, mas vai chegar ao menos a alguns braços paulistas.

Não atenderia toda a necessidade do país, mas já seria de grande ajuda, se os estudos que todos esperam para os próximos dias, comprovarem sua eficácia. Perto do mRNA o vírus inativado é sem graça. É como um Fusca que não corre, mas anda.

São Paulo anda. O resto do país, se arrasta. É uma vergonha nacional. Teríamos que ter mais opções. O Brasil construiu nas décadas passadas um dos melhores, se não o melhor, programas de vacinação do mundo. Poderia ter sido diferente.

O presidente Jair Bolsonaro prometeu vacinas “para toda a população”. Esqueceu de dizer na cartinha para Papai Noel com que vacina nos brindará. Não disse porque não sabe e não tem vacina alguma para oferecer.

Em Natal de pandemia, Papai Noel mora na China, terra de seis das 12 vacinas mais avançadas, e só mesmo por milagre ou interesse vai querer nos ajudar. Podem começar a rezar. #pandemia #vacina #COVID19 #coronavirus