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Especialistas dizem que o governo não se preparou para estabelecer prioridades dentro dos grupos prioritários. Sugerem que há profissionais de saúde que não têm contato direto com o vírus
O Ministério da Saúde confirmou nesta terça-feira (19) a entrega de seis milhões de doses da CoronaVac para todos os estados e o Distrito Federal. A vacinação já começou em quase todo país.
Especialistas ouvidos pelo Jornal Nacional , da Rede Globo, calculam que não há, neste momento, vacina suficiente nem para metade dos profissionais de saúde no Brasil. A Rede de Pesquisa Solidária, que reúne mais de cem pesquisadores brasileiros, estima que o Brasil tenha, ao menos, cinco milhões de trabalhadores da saúde. Como a aplicação da vacina ocorre em duas doses, seriam necessárias dez milhões de doses apenas para esses profissionais.
A vacinação teve início pelos grupos prioritários da chamada fase 1: trabalhadores de saúde, pessoas institucionalizadas (que residem em asilos) com 60 anos de idade ou mais, pessoas instituicionalizadas com deficiência e população indígena aldeada. No entanto, os especialistas dizem que a falta de doses para esse grupo, e um melhor dimensionamento de prioridades, revela a total falta de planejamento do governo.
Com vacinas insuficientes neste momento, pesquisadores afirmam que é preciso estabelecer prioridades dentro das prioridades. Em nota, a Associação de Medicina Intensiva Brasileira e a Associação Brasileira de Medicina de Emergência recomendam que é preciso vacinar primeiro profissionais em contato direto com pacientes de Covid, tanto de emergências como de UTIs, também os que atuam no Samu e em todas as unidades de emergência e UTIs, mesmo que não sejam exclusivas para Covid.
Ontem (18), já havia iniciado a vacinação em Goiás, Piauí e Santa Catarina, além de São Paulo, no domingo.
No mapa mundial de vacinação, o Brasil aparece com 6.815 pessoas vacinadas. EUA, China e Reino Unido são os países que mais vacinaram até o momento. Israel (31,1%), Emirados Árabes (29%), Bahrein (8,4%) e Reino Unido (7%) são os países com maiores percentuais de população imunizada.
Vacina de Oxford atrasada
A Fiocruz prevê que só deve entregar no início de março as primeiras doses da vacina de Oxford/AstraZeneca produzidas no Brasil, já que a chegada de insumos da China atrasou. A promessa anterior, feita no final de dezembro, era fornecer o primeiro lote do imunizante por volta de 8 de fevereiro.
Após a chegada do insumo, a Fiocruz diz que ainda será preciso mais de um mês para o fornecimento das vacinas, já que, depois de produzidas, as doses ainda terão que passar por testes de qualidade. Estima-se que esses testes levem 17 dias, somados a mais 2 dias de análise pelo INCQS (Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde).
Sobre os 2 milhões de doses prontas que estão na Índia, a Fiocruz responde que ainda não é possível precisar a data de envio, devido a pendências nas negociações diplomáticas entre os governos da Índia e do Brasil .
Sabotagem diplomática
O governo de Jair Bolsonaro passou os últimos meses atacando a proposta feita pela Índia ainda em 2020 para que patentes (direito de propriedade) sobre vacinas fossem abolidas. Um dos resultados seria permitir que a produção dos imunizantes pudesse ocorrer em laboratórios distribuídos pelo mundo. Agora, Nova Déli diz que é justamente a falta de produção de versões genéricas da vacina contra covid-19 que impede o abastecimento global de um imunizante.
A ideia indiana garantiria que instalações de fabricação de vacinas em todo o mundo pudessem produzir suas próprias vacinas. Com a sabotagem brasileira, unido aos países ricos detentores das licenças, as leis de propriedade intelectual sobre vacina impediram a agilização desse processo de imunização. As licenças voluntárias, quando existem, estão envoltas em segredo, os termos e condições não são transparentes e o escopo é limitado a quantidades específicas, ou para um subconjunto limitado de países, encorajando assim o nacionalismo.
Sabendo de sua vulnerabilidade, o Itamaraty se manteve em silêncio durante a reunião de hoje na OMC, evitando os ataques que promoveu desde setembro contra a ideia dos indianos, para não ir para o fim da fila de pedidos aos indianos. A vacina de Oxford/Astrazeneca comprada pelo Brasil é fabricada na Índia.
A atitude do Brasil, em apoio aos EUA e ao governo de Donald Trump, contrasta com a tradição diplomática brasileira. Tanto nos governos FHC e Lula, houve um protagonismo mundial do país para garantir o acesso de países pobres a medicamentos e vacinas, com quebra de patentes. Governos de todo o mundo investem grandes somas no desenvolvimento de medicamentos e vacinas, para além do investimento privado.
Vacinação
Confira o número de pessoas a serem vacinadas em cada região neste primeiro momento:
Norte: 337.332
Nordeste: 683.924
Sudeste: 1.202.090
Sul: 357.821
Centro-Oeste: 273.393
Confira a quantidade de doses que estão sendo enviadas para cada região:
Norte: 708.440
Nordeste: 1.436.160
Sudeste: 2.524.360
Sul: 751.440
Centro-Oeste: 574.160
Com informações das agências de notícias