Análise do Observatório Covid-19, da Fiocruz, pode ajudar a aprimorar imunização no país. Equipe fez estudo detalhado sobre o avanço da cobertura vacinal por faixa etária, nos últimos 14 meses. Hoje, o foco recai sobre jovens de 5 a 11 anos
Por Flávio Dieguez, compartilhado de Outras Palavras
A Nota técnica divulgada pela Fiocruz na quarta-feira (16/3) procurou mostrar que o nível de cobertura vacinal contém informação importante “para tornar mais eficientes as estratégias de busca ativa e orientações sobre a aplicação de doses específicas” no processo de vacinação. O exame recorreu a dados diários da cobertura vacinal contra covid-19 no Brasil, conforme a dose aplicada (primeira dose; segunda dose/dose única; dose de reforço). Avaliou, a partir daí, se as tendências mudaram ao longo do tempo e verificou a proporção de população coberta para cada dose, segundo grupos etários. Obtiveram vários resultados esclarecedores.
Um dos resultados indica que em 12 de março, 73,9% da população da população brasileira tinha recebido a vacinação completa, e 32,9% já havia recebido inclusive a dose de reforço. Mas para a faixa de 5 a 11 anos, só 39,3% tinha recebido a primeira dose e apenas 4,7%, a vacinação completa. Essa dinâmica vacinal, conforme o relatório do estudo, “ratifica a ideia de que expandir a aplicação de primeira dose entre crianças irá alavancar a proporção de população coberta para patamares maiores que 80%”. Essa seria uma fração mais confortável do ponto de vista da proteção imunológica do conjunto da população.
O Observatório examinou as distintas fases de vacinação no Brasil de acordo com seus ciclos de expansão desde o início, em janeiro de 2021. Lembrou que inicialmente, foram vacinados os grupos de idosos, os profissionais de saúde e populações isoladas (indígenas e quilombolas, por exemplo). Selecionaram-se em seguida os grupos de menor idade até chegar aos adolescentes. Em dezembro, assinala o texto, já se considerava estratégica a ampliação da vacinação para crianças, que compõem 9,5% da população brasileira. O avanço, porém, foi lento, como se viu pelos dados do parágrafo anterior.
De modo geral, a sistematização dos dados mostra que os mais jovens se encontram abaixo da média geral de imunização – e tendem, em princípio, a manter baixa a média geral, aquém dos 80%. O grupo de idades menores de 29 anos têm cobertura completa abaixo de 80%, comparado aos grupos de maior idade, que têm cobertura acima desse nível. A cobertura é superior a 90% para todos os grupos de idade acima de 50 anos. Como são numerosos, porém, os mais jovens influenciam bastante o valor de 73,9% da taxa geral de cobertura completa. Veja o gráfico a seguir.
Não é objetivo do Observatório fazer projeções, note-se. “Não pretendemos estabelecer uma conclusão sobre a tendência futura da cobertura vacinal”. A análise dos dados, em vez disso, contribui para a tomada de decisões sobre saúde pública, no caso, sobre o processo de imunização.
Inclusive, cabe lembrar que a análise se refere ao país todo, “e há reconhecida desigualdade regional na cobertura vacinal do Brasil”, apontam os especialistas. Sobre o rebaixamento do status de pandemia a endemia, bastante cogitada atualmente, eles recomendam cautela em decisões como flexibilização do uso de máscaras e relaxamento do distanciamento físico.
De todo modo, há alguma preocupação no país a respeito dos baixos índices de pessoas que procuram receber doses pediátricas e de reforço na fase atual de imunização. É o que afirmam epidemiologistas ouvidos pela imprensa nas últimas semanas, dizendo que as taxas baixas representam uma mudança no perfil comportamental da população e refletem os desincentivos ao programa de vacinação.