Vai um cafezinho?

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Quando falamos em cafezinho lembramos de um papo descontraído, onde podemos até falar de coisas sérias, de negócios. Mas quando falamos em O Cafezinho, blog do jornalista Miguel do Rosário, nos reportamos a um dos blogues políticos com maior audiência no Brasil, com mais de 1,5 milhão de acesso por mês. O blog de Miguel do Rosário foi o responsável pelo furo de reportagem que trouxe à tona a sonegação fiscal das empresas das Organizações Globo.

Miguel do Rosário, 38 anos, jornalista desde os 16 anos quando começou a trabalhar com o pai, José Barbosa do Rosário, já falecido, desde quando este fundou um pequeno jornal em 1991. “Meu pai tinha um jornal chamado Coffee Business, voltado para o assunto café e negócios, mercado do café, como o próprio nome afirma, onde eu fazia de diagramação a redação. Era um faz tudo”.




Formado pela UERJ em Comunicação Social, Miguel continuou a tocar o jornal depois do falecimento do pai. “Aprendi muito política fazendo este jornal, pois abordávamos a política cafeeira, onde havia entes conservadores e progressistas. Nós éramos mais progressistas. Pelo menos duas vezes por mês viajava para seminários, onde eu fazia reportagens e tentava vender anúncios. A linha editorial era voltada mais para os custos de produção, à valorização do trabalhador da indústria cafeeira e contra os chamados commodities, o produto não industrializado. O Brasil quase não exporta café torrado, mas é o segundo maior torrador do mundo para o consumo interno, depois dos EUA. É uma das poucas estruturas de negócio onde um pequeno e médio produtor sobrevivem com uma certa estabilidade. Meu pai escrevia os editoriais e eu a maioria dos textos.

Blogues em sua vida – Miguel conta que começou a fazer blog há 10 anos, um de literatura e outro de política, Hell Bar e Óleo do Diabo. Este número foi ganhando espaço e o Hell Bar ficando para trás. Com a história do mensalão, a imprensa tradicional passou a sufocar muito a esquerda, daí surgiram os blogues progressistas, com a Internet crescendo muito a partir daquele momento, e eu mantive o Óleo do Diabo seguindo esta linha. “O Cafezinho surgiu no final de 2011, quando resolvi me profissionalizar como blogueiro e este nome, Óleo do Diabo, poderia dificultar. Daí, fiz um blog chamado Gonzo, não sei onde fui buscar este nome, mas larguei logo e mudei para O Cafezinho, em homenagem ao jornal que eu fazia com meu pai e a referência de algo descontraído, que não chega ao encontro com cerveja, caipirinha.”
Números e tempo – Um blog pode crescer rápido, mas pode cair rápido também. Se parar de atualizar alguns dias, corre o risco sério de esquecimento. O Cafezinho chega a passar de 50 mil pageviews (acesos) diários . E temos uma fanpage que contribui para a divulgação do blog, tendo muito mais curtidas até do que O Cafezinho.

“Não tenho um horário padronizado de trabalho. Não tenho, deveria até ter. É de manhã, de tarde e noite. Às vezes saio desesperado para andar no aterro, sem querer ver computador na minha frente. Millôr Fernandes dizia: ‘tiro férias todos os dias’. Neste aspecto, trabalho todos os dias e dou minhas escapadas diárias, como se fossem férias”.

Vasculho muito a Internet a procura de novidades. Desde a época do jornal Coffee Busness eu já fazia isso. Ficava ligado na Bolsa de Cereais do Japão para dar a notícia na frente.

Furo da sonegação da Globo – “Eu conhecia uma pessoa da minha rede, que conhecia outra pessoa que tinha os documentos. Esta pessoa entendia que se a denúncia saísse de um blog teria mais impacto. Os documentos foram roubados no Rio de Janeiro e foi passando de mão em mão. Eles queimavam nas mãos das pessoas até que chegou nas mãos de uma pessoa que resolveu divulgar.”

Com se deu a sonegação – “Para não pagar imposto, a Globo não quis comprar os direitos da transmissão da Copa do Mundo de 2002 diretamente da ISL, empresa hoje extinta, que na época era licenciada pela CBF. A Globo criou um pool de empresas no exterior para burlar a Receita Federal no Brasil. A impressão é que seria mais fácil a Globo simplesmente pagar o imposto do que montar esta operação. Mas é um vício de grande parte do empresariado brasileiro que faz de tudo para sonegar.”

Leia aqui detalhes sobre os documentos

O preço da sonegação – De 183 milhões de reais, mais multa e juros de mora, passam de 600 milhões de reais. A receita encaminhou cobrança para a Globo e acionou a Polícia Federal sobre o caso.

Silêncio dos outros veículos – É assustador o silêncio geral da mídia tradicional sobre este escândalo de uma empresa fortemente conservadora, fortemente partidária. Enquanto nos maiores países do mundo as televisões públicas têm protagonismo, aqui a sociedade é refém da Globo.

Sumiço dos documentos da Globo – “Quando os documentos estavam para ser encaminhados para o Ministério Público foram roubados dentro da Receita Federal. Roubados pela senhora Cristina Maris Meinick Ribeiro. Ela foi presa durante uns quatro meses, mas recebeu apoio de uma das bancas de advogado mais poderosas do país. Foram quatro advogados ao STF e conseguiram habeas corpus para esta senhora, junto ao ministro Gilmar Mendes. Mesmo tendo já vários processos de alteração e roubos de documentos anteriores ao caso Globo, foi solta.” Os documentos passaram pelas mãos de quadrilhas e depois de muita confusão chegaram às mãos de Miguel do Rosário.

Embate entre blogueiros e velha mídia – A blogosfera se notabilizou como instrumento de crítica à mídia. No início, a mídia tradicional tentou se apoderar totalmente da Internet , mas não conseguiu. Paulo Coelho, um dos maiores vendedores de livros do mundo, hospedado no G1, da Globo, não tem a mínima repercussão. As pessoas já percebem a necessidade deste contraponto. Esta mídia tradicional é um braço dos interesses dos Estados Unidos. No caso da Globo nem se fala, pois quem contribuiu para o surgimento e crescimento deste império da comunicação foram os Estados Unidos, na época da ditadura. Justo os Estados Unidos, que não pratica lá do que a Globo se benéfica aqui. Lá qualquer cidade média tem uma televisão pública. Não é permitido a existência de um império como o da Globo.

Refinaria de Passadena – Desde o início defendi a compra de Passadena. Vi como uma aquisição estratégica. A comunicação da Petrobras mostrou muita fragilidade naquele momento. A impressão que a mídia tradicional passava era a de que a refinaria de Passadena era uma sucata. Começamos a mostrar que não era. Que não era sucata e, muito pelo contrário, funcionava e dava lucro. É uma das unidades internacionais que mais dá lucro à Petrobras.

Consumidores de notícia – As pessoas estão cada vez mais exigentes quanto à informação que chega a elas. Ainda tem muitos que aceitam sem pensar sobre o que estão tentando colocar em sua cabeças, mas isso está se reduzindo. A pessoa precisa criar uma consciência crítica. Precisa ter bom senso e procurar saber se realmente aquilo tem veracidade. O processo da vida é de muitas escolhas. A gente conhece alguém e já cria um pensamento sobre ela, mas com o passar do tempo vai juntando outros aspectos e pode passar a ter uma outra opinião sobre a mesma. Não dá para 200 milhões de pessoas aceitarem sem pestanejar a opinião comum de seis a sete famílias que imperam na velha mídia.

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