Aqui, Valentim fala como compôs a música “Sertão” e sobre o projeto e seus participantes

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“Sertão” foi uma daquelas canções que quando vem é de uma vez só, de cabo a rabo. Ela foi inspirada na frase “o Sertão está em toda parte” de Guimarães Rosa. Desde que ouvi isso nunca mais consegui largar a idéia.

Questiono-me: qual é a diferença entre a invenção e a descoberta, se tudo já existe de alguma forma no “nada”? Um lugar (físico ou subjetivo) que ainda não foi acessado, mas que está lá/aqui, no Sertão.




Essa música mesmo estava em algum ponto desse lugar e foi encontrada de uma vez só, em questão de minutos. A letra fala sobre essa ideia que trouxe aqui.

Sem o Sertão, seja ele visto como “tudo” ou como “nada”, não é possível sequer chorar, amar, cantar ou existir.

É por isso também que a figura de Deus está nessa letra, ela assume um lugar não tão absoluto quando se trata de “Grande Sertão: Veredas”. Ao mesmo tempo que encontrei a letra e a melodia da voz, fui encontrando a harmonia e o arranjo do violão, que, não à toa, me lembram o cancioneiro popular e a sua capacidade de exaltar emoções sem precisar de harmonias extensas ou “cabeludas”.

Ah
Se não pudesse mais chorar sertão
O que choraria eu então?
Ah
Se não pudesse mais amar sertão
O que amaria eu então?
Ah
Se não pudesse mais cantar sertão
O que cantaria eu então?
Ah
Se não pudesse mais haver sertão
O que haveria aqui então?

Mas se hoje onde é tudo começou no-nada
De onde é quem vem Deus e sua tropa armada
De onde é que vem Deus e sua…

 

Eu estudo no Colégio São Domingos, nesse projeto, atualmente, estão seis alunos (Joana Penafieri, Laura Scótolo, Maria Eduarda Coimbra, Julia Amado, Maria Bilio e Valentim Frateschi) e os professor Tato Sanches (literatura) e Wagner Días (música).

O projeto surgiu a partir da leitura e investigação do livro “Grande Sertão: Veredas” em sala de aula com o professor Tato e foi coroado com uma viagem em 2018 até Morro da Garça (cidade mineira que fez parte da trajetória de Guimarães pelo Sertão).

Nessa viagem, o projeto foi apresentado pela primeira vez em um sarau da cidade,  dentro da programação da “Semana Roseana”. Que  é um evento que acontece todos os anos em Morro da Garça, reunindo diversos artistas locais ou não para que apresentem algo relacionado à obra de Guimarães Rosa.

No final desse ano de 2018 nós fomos convidados a participar de um sarau no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros da USP), onde há um dos maiores acervos de pesquisa do mundo sobre a obra de Guimarães Rosa.

Agora em 2020 o projeto foi retomado quando participamos novamente de um Sarau do IEB, mas dessa vez virtualmente, que foi o que deu origem aos vídeos.

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