Publicado em Nocaute –
Em sua vídeo-coluna dessa semana, o ex-ministro José Dirceu fala sobre a perseguição a um dos maiores cientistas do Brasil em uso medicinal de maconha, o professor emérito Elisaldo Carlini, de 88 anos. Um sinal da regressão política e cultural que o golpe impôs ao país, e que lembra os tempos da Ditadura, quando se perseguiam professores e artistas.
Por Jose Dirceu em 26 de Fevereiro às 18h41
Olá, minhas amigas e meus amigos do Nocaute.
Hoje quero tratar de um furo do Nocaute. A denúncia que o professor emérito, pesquisador reconhecido mundialmente, condecorado várias vezes pela ONU, pela Organização Mundial da Saúde, pelo nosso governo, foi intimado a depor por apologia ao crime. Elisaldo Carlini da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com 88 anos de idade dedicados à Ciência e à pesquisa, foi obrigado a depor como se tivesse fazendo apologia do uso de drogas. Quando ele é o maior e mais importante cientista nessa área.
Isso é um péssimo sinal, é um sinal dos tempos. De uma regressão política e cultural do nosso país. E lembra os tempos da Ditadura. Quando centenas de professores foram cassados e afastados das Universidades. Quando teatros eram invadidos para impedir a realização de peças. Quando artistas eram exilados. Quando o Parlamento era fechado, deputados eram cassados e a repressão dominava o país. Contra a criação, contra a arte, contra a liberdade. Porque não suportava a verdade, a crítica.
E repete-se no Brasil essa situação. Por isso Elisaldo Carlini se transforma no símbolo da resistência à repressão, agravada com tentativas de impedir exposições de arte. Agravada com a tentativa de impedir um Seminário na Universidade de Brasília sobre o Golpe de 2016. E mais grave a repressão, prisão e depois o suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina. É hora de resistir, de denunciar e faço um chamado aos estudantes, porque o que está acontecendo com a Universidade brasileira é o corte de verbas para pesquisa científica, o sufocamento da Universidade. Por causa da sua liberdade de criação, sua liberdade de crítica. O medo da verdade.
Por que não querem que se estude o Golpe parlamentar jurídico de 2016? Por que temem as pesquisas sobre drogas? A política que o país conduz de criminalização dos usuários e da maconha é equivocada. Isso já está provado em todo o mundo. É preciso mudá-la, como é preciso impedir que esta repressão que procura amedrontar àqueles que se opõem ao atual governo usurpador e ilegítimo prossiga.
Portanto, minha homenagem e solidariedade ao professor Carlini e meu chamamento à luta e a à resistência, particularmente, dos estudantes, dos Centros Acadêmicos, dos DCEs, das entidades estudantis e de todos aqueles que hoje produzem, trabalham e se dedicam à arte e à ciência no Brasil. Não vamos tolerar o regresso ao passado. Vamos resgatar e defender a nossa democracia.