Por Guilherme Simon, compartilhado de NCS Total –
Margareth Dalcolmo falou sobre vacinação e perspectivas para a pandemia em entrevista à NSC TV nesta segunda
A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Margareth Dalcolmo, uma das profissionais de saúde mais atuantes durante a pandemia de coronavírus, falou sobre vacinas e perspectivas para os próximos meses em entrevista nesta segunda-feira (11) ao Jornal do Almoço, da NSC TV.
Para Margareth Dalcolmo, mesmo após a vacinação, as pessoas vão precisar manter os cuidados básicos de prevenção contra a Covid-19 pelos próximos dois anos. Ela afirmou “não ter muita dúvida” quanto a isso, citando a experiência de ver de perto outras epidemias, como a de ebola, na África.
— As nossas vidas não vão mudar tão cedo, nós vamos ser vacinados e vamos continuar tendo que usar máscaras, sobretudo em transportes fechados, trens, ônibus, aviões, navios, tudo que é coletivo, nós vamos precisar usar máscara, manter um distanciamento prudente das pessoas (…) acho que nós vamos nos próximos dois anos ter que ter uma vida ainda com cuidados diferentes da vida anterior a dezembro de 2019 — comentou.
A pesquisadora também falou sobre o processo de fabricação da vacina da AstraZeneca/Oxford na Fiocruz, que teve o pedido de uso emergencial feito à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na semana passada.
Segundo Margareth, o insumo farmacêutico ativo para a produção dos imunizantes deve ser recebido nos próximos dias de janeiro, e o processo produtivo será iniciado “imediatamente”. A previsão é que o primeiro lote com um milhão de doses da vacina seja entregue ao Ministério da Saúde no início de fevereiro.
— Nós estamos recebendo 2 milhões de doses prontas, que vacinarão 2 milhões de pessoas, uma vez que o modelo adotado e aprovado pela Anvisa foi de um intervalo, exatamente como foi na Inglaterra, de 12 semanas entre a primeira e a segunda doses — completou.
Margareth Dalcolmo também falou sobre as discussões a respeito da eficácia das vacinas. No caso da vacina da AstraZeneca/Oxford, os resultados ainda não foram divulgados no Brasil. A outra vacina que também já teve solicitação de aprovação emergencial feita à Anvisa, a Coronavac, teve eficácia divulgada de 78% em casos leves e de 100% para casos graves e mortes. A eficácia geral deve ser anunciada nesta terça (12).
Para a pesquisadora da Fiocruz, a eficácia das vacinas é algo que interessa mais aos pesquisadores e não pode ser tomada como uma “verdade absolutada”.
— Todas as vacinas aprovadas até o momento são vacinas que oferecem uma taxa de segurança e uma taxa de eficácia nos estudos de fase 3 bastante superiores a 50%, o que é o mínimo exigido para aprovação de uma vacina, e o resto será observado a longo prazo. O que é importante é que nós consigamos cobrir uma proporção de população bem alta para que nós consigamos encontrar aquela chamada, e já conhecida de todos vocês, aquela imunidade de rebanho, que é um termo que nós só usamos quando estamos nos referindo à vacina, a imunidade comunitária, que deverá ser de aproximadamente 60% da população brasileira vacina.
A pesquisadora da Fiocruz comentou ainda a disseminação de informações falsas envolvendo a vacina produzida pela fabricante da China, a Coronavac, e avaliou que o “preconceito é uma questão de informação”, e que não há motivo algum para desconfiança:
— Na verdade, a China é o maior produtor de insumos biológicos no mundo. Então, todo mundo usa produtos ou parte de produtos da sua capacidade produtiva vindos da China. A vacina da Astrazeneca, a fábrica que foi visitada pela Anvisa inclusive, de onde estão vindo o insumo farmacêutico ativo para que nós possamos produzir a vacina, é da China também.
Já quanto a falas contrárias às vacinas, Margareth Dalcolmo foi enfática ao classifica-las como um “desserviço criminoso” que “não pode ficar impune”.
— Essas, sim, essas (falas) revelam obscurantismo e desserviço que considero criminoso, e que não pode ficar impune nem por vocês, órgãos de comunicação, nem para os órgãos de classe, pela Justiça, porque isso, na verdade, numa população muitas vezes desprotegida, assustada por uma doença nova, isso tem uma contribuição muito deletéria para o país (…) as vacinas são a única e a maior arma para o controle da epidemia, para a nossa proteção individual e para a proteção de toda a coletividade — disse.