Por Patricia Faermann, publicado em Jornal GGN –
GGN cruzou as mensagens divulgadas pelo The Intercept, na noite desta quarta (12), com as decisões do ex-juiz Sergio Moro no ano de 2016
Jornal GGN – Os esforços para prender Tacla Duran foram o início da colaboração dos Estados Unidos com a Lava Jato. A conclusão pode ser feita após cruzar as mensagens divulgadas pelo The Intercept, na noite desta quarta-feira (12), com as decisões do ex-juiz Sergio Moro no ano de 2016.
No primeiro despacho da investigação contra Duran, datada de 5 de julho de 2016, Sergio Moro determinou buscas e apreensões para coletar provas sobre lavagem de dinheiro por Duran e Adir Assad. Em determinado trecho do documento, Moro destaca a importância de determinar prisão cautelar contra Duran, por já terem o conhecimento de sua dupla nacionalidade espanhola:
“Relativamente à Rodrigo Tacla Duran, há um risco adicional à aplicação da lei penal, pois possui dupla cidadania, brasileira e espanhola, o que lhe facilitará eventual refúgio no exterior, onde ainda poderá fruir do produto do crime, já que suas contas no exterior não tiveram os saldos bloqueados e confiscados.”
Entretanto, naquele mês de julho, não se sabia que o advogado estava nos Estados Unidos. A Operação foi chamada de “Dragão” e ocorreu justamente para coletar mais informações e o paradeiro dos investigados. Com os mandados de busca e apreensão lançados, a Lava Jato soube nos dias seguintes que Duran se encontrava nos EUA.
Por esta razão que as notícias sobre o caso foram divulgadas na imprensa brasileira somente quase 4 meses depois desse primeiro mandado de prisão cautelar: em novembro daquele ano, a PF noticiou que deflagrava a 36ª fase da Operação Lava Jato denominada Operação Dragão. É que quatro meses depois, a Lava Jato de Curitiba já tinha conseguido a cooperação dos norte-americanos.
“O empresário e lobista Adir Assad, que já está preso na carceragem da PF, em Curitiba, é um dos alvos dos mandados de prisão. O outro é o advogado Rodrigo Tacla Duran, segundo o Ministério Publico Federal (MPF). Ele está no exterior e não havia sido preso até as 8h23. Segundo o MPF, a dupla é responsável pela lavagem de dinheiro”, divulgava o G1.
“O principal alvo da 36ª fase da Operação Lava Jato deflagrada nesta quinta-feira, 10, o advogado Rodrigo Tacla Duran, usava seu escritório de advocacia para gerar propina em espécie para empreiteiras (…). Batizada de Operação Dragão, Duran foi alvo de um dos dois mandados de prisão preventiva expedidos pelo juiz federal Sérgio Moro. O alvo ainda não foi preso e está desde abril nos Estados Unidos”, estampava o Estadão.
Sabe-se agora com as mensagens divulgadas pelo The Intercept, que ainda nos meses de julho e agosto, após a força-tarefa da Lava Jato ter conhecimento que Duran estava nos EUA, os procuradores pediram a cooperação das autoridades norte-americanas para prender o advogado brasileiro, antes de tomar como destino a Espanha, aonde ele tem nacionalidade.
É o que Deltan Dallagnol quer dizer quando menciona que todas as investigações da Lava Jato haviam sido postergadas enquanto não saísse a denuncia contra o ex-presidente Lula, “menos a op [Operação] do taccla [Tacla] pelo risco de evasão”.
“Mas ela depende de Articulacao [articulação] com os americanos”, continua o procurador da Lava Jato, em mensagem a Sergio Moro, destacando, em seguida que a articulação “está sendo feita”.
O que se seguiu desde agosto, quando foram registradas estas mensagens entre Dallagnol e Moro, foram as diversas tratativas dos procuradores da Lava Jato com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Parte delas foram consolidadas em novembro de 2016, quando a Lava Jato decide anunciar publicamente a Operação contra Duran.
A título de observação de contexto: em dezembro de 2016, o ex-funcionário da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, admitia em depoimento que havia sido procurado pelo governo norte-americano, por intermediação da própria força-tarefa da Lava Jato, para negociar um acordo de colaboração com o Departamento de Justiça dos EUA. O fato gerou a primeira reação pública e de jornais sobre a interferência do país nas investigações nacionais.