Por Washington Luiz de Araújo, Brasil 247 –
Um texto de ficção que revela como funcionam os vazamentos seletivos da imprensa brasileira
Conversa vazada numa redação de um veículo de comunicação:
– Alô, é o meu suposto amigo?
– Sim! Diga, meu suposto vazador preferido!
– Você fala isso para todos. Não me ama mais.
-O que é isso? Sabe que trato com imenso carinho todos os seus vazamentos, não sabe?
– Sei não. Você sabe como sou ciumento. Tenho visto alguns vazamentos, que não são de minha lavra, com maior destaque que os meus.
– Não fale isso. Assim você me magoa. Você é que, desconfio, não vaza só para mim. Está me traindo!
– Eu, nada! Sou fiel a você. Por falar nisso, “bombou” aquele último vazamento que eu lhe passei, hein?!
– É, foi bom. Mas preciso de mais. Sabe como é, tenho concorrentes – e muitos. Alguns trabalham ao meu lado e vivem espichando os olhos para ver o que estou escrevendo e os ouvidos para descobrirem o que estou falando.
– Você, sempre querendo mais! Nunca está contente?
-Quem não se satisfaz é o meu editor. Depois da repercussão desse último vazamento, que, aliás, não se comprovou nada a respeito, mas isso é o de menos, ele veio com o papo de que precisa de mais coisa e coisa melhor, pois os concorrentes estão apelando. Até um boato de que o Lula teria gastado uma “baba” numa suposta festa infantil de um imaginário sobrinho já rolou…
– É verdade, o pessoal está trabalhando. Até o pobre do Jack Nicholson entrou na história como portador de Alzheimer. Bota amor à verdade nisso, é ou não é?
– Não muda de assunto, cadê os novos vazamentos?
– Calma, tenho que ir devagar. Pensa que é fácil? Ainda mais que agora vocês exigem vazamentos editados, com texto jornalístico. O que é isso?
– Meu amigo, como eu lhe disse a coisa aqui é linha de produção. O vazador que nos envia texto pronto tem preferência. Fazer o quê? É o capitalismo selvagem. Menos custo aqui para a empresa. E fechamento de edição não é moleza, não. Está cada vez pior, é pressa e pressa e pressa. Você já esteve aqui e viu como é um fechamento de edição! Lembra?
– Sei, sei, tudo bem, mas esta vida de vazador anônimo me enche o saco. Eu vazo e você leva a fama.
– Calma, calminha, um dia você receberá o merecido reconhecimento pelos inúmeros serviços prestados a nós.
– Pô, coloque-se no meu lugar. Não tenho nem como me “pavonear” com os amigos da cerveja, contando e que tal manchete foi resultado de uma vazamento meu! Nem pegar uma “periguete” com meus vazamentos eu posso. É triste, muito triste.
– É, mas a sua instituição está nas manchetes, com isso você ganha pontos.
– Sei disso, por isso me esforço. Por falar nisso, você sabe que um delator citou políticos da alta cúpula tucana?
– Nem que quero saber. Isso não rende aqui na redação. Manda mais coisa do PT, meu amigo. Vazamento, vazamento! Mas manda a jato!
– Yes, sir!!!!!
Obs.: Este é um texto de ficção. Não tente encontrar nenhum tipo de veracidade nesse diálogo. Aliás, isso serve para muitos vazamentos que têm feito a alegria de muitos veículos de comunicação tradicionais por aí.