Por Fernando Veríssimo, no Globo, publicado em DCM –
O escritor Fernando Veríssimo escreveu em O Globo sobre a vergonhosa conjuntura envolvendo Moro, Dallagnol e a farsa da Lava Jato.
Uma semana antes do dia da última eleição presidencial, foi publicado na imprensa um estranho documento. Sem nenhuma razão aparente ou deduzível, o então juiz Sergio Moro liberou um trecho do depoimento que fazia à Justiça o ex-ministro do Lula Antonio Palocci. O documento não continha nenhuma delação nova que justificasse sua liberação extemporânea, ou causasse mais estragos ao PT do que o bombardeio ao Palocci já tinha causado.
A publicação do trecho escolhido pelo Moro e a aproximação da data da eleição podem ter sido coincidência, sim. Ou:
Foi distração do Moro, que só se deu conta da coincidência quando começou a ouvir os foguetes da vitória do Bolsonaro.
Foi distração do Moro. Ou você acredita que foram as novas revelações do Palocci, requentadas pelo Moro, que deram a vitória ao Bolsonaro? Reajuste seu discernimento.
Foi distração de todo mundo. Combinada.
No fim, a questão que ficou para sabermos antes de decidirmos é quando a desesperança nos dará mais opções. Quando será chegada a hora do herói, e ele não seja outro engano como o Bolsonaro. Não se sabe até onde sobreviverá o Moro como opção numa crise que começa a se autodevorar. Ou ele já perdeu a condição de exceção que tinha, pelo menos até ontem?
Sério, agora. Quem foi que disse “triste é o país que precisa de heróis?”. Bertolt Brecht, se não me falha o Google. “Heróis”, no nosso caso, seriam pessoas medianamente honestas que elegessem pessoas medianamente capazes de dirigir um país medianamente possível; é pedir muito? Moro representou não uma esperança grandiloquente, mas essa possibilidade meio desconsolada. O problema com o Moro é que o país precisava de um mocinho de cinema, e ele tem cara de bom moço.