Versão “Tchutchuca” de Bolsonaro não vai livrá-lo da cadeia

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O diabo é o dia seguinte. Como não consta do Código Penal, do Código de Processo Penal e da Constituição da República que colocar muita gente na rua tem o condão de livrar investigados e indiciados do acerto de contas com a justiça, segue dura a vida de Bolsonaro.

Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog




A propósito, qual foi o fato político novo trazido pela manifestação deste domingo, na Avenida Paulista? Por óbvio, na medida em que se tratou de um ato de natureza política, não seria razoável menosprezar a grande quantidade de pessoas presentes à micareta golpista.

Mas e daí?

Quem observa com olhar minimante atento a cena política de uns anos para cá, no Brasil, sabe que, desgraçadamente, o fascismo à brasileira, somado ao neopetencostalismo e ao analfabetismo político galopante produziram uma argamassa política e social, com considerável poder de mobilização. 

Vale destacar que vimos um Bolsonaro diferente ontem. Como um leão desdentado, vestiu um figurino da moderação que não costuma lhe cair bem.

Movido por sua proverbial covardia e por um surto de cálculo político racional, para tentar escapar da cadeia, ele trocou o “acabou, porra, não vou mais cumprir decisões do Supremo”, xingamentos ao ministro Alexandre de Moraes e insultos ao STF, como em 2021 e 2022, por pedidos de anistia “aos pobres coitados que estão presos”, se referindo à turba terrorista de 8 de janeiro. 

Ao jurar que quer “passar uma borracha no passado” e ver o país pacificado, Bolsonaro está na verdade legislando em causa própria, pois se vê incluído nesta anistia. 

A teatralização, que trouxe para o palco a versão “Tchutchuca” do capitão, contudo, não mudará o curso dos acontecimentos. Qual é o próximo passo imaginado pelo ex-presidente? Convocar um ato em Copacabana? Uma motociata? Um passeio de jet ski? Que efeito prático teriam?

Não ficou a sensação que o último cartucho foi gasto na Paulista?

O modelito farsesco de bom moço adotado não convence ninguém com mais de dois neurônios. Está no DNA do bolsonarismo se aproveitar da democracia, para golpeá-la e feri-la de morte, como esteve perto de acontecer no Brasil.

Em termos jurídicos, Bolsonaro deu alguns escorregões dignos de nota, em seu discurso. Como não consegue se conter diante da multidão fardada com a camisa da CBF, jogou no lixo seu silêncio no depoimento à PF de três dias atrás e assumiu que tinha conhecimento da minuta do golpe. 

A partir desta segunda-feira, nem as imagens da multidão na Paulista, nem os tapinhas nas costas dados pelos áulicos, e tampouco a ordem unida de seu clã, farão Bolsonaro escapar da continuação de seu calvário, um pesadelo que lhe assombra na forma de várias siglas: PF. MPF. PGR e STF.

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