Adriana do Amaral, jornalista
Imaginem linhas, agulhas, fitas coloridas, rendas delicadas, botões, tecidos e uma mente criativa. Some-se a isso o amor multiplicado por 50! Foi assim, da solidariedade de uma jovem costureira das Minas Gerais, que nasceu o projeto “Vestidinhos Felizes”.
Pensando na tradição de vestir uma roupa nova no Natal, e como essa prática é cada dia mais difícil para muitas crianças, Juliane Carvalho costurou 50 vestidinhos felizes com as próprias mãos. Por que felizes? Porque a beleza salta aos olhos. E a prática amorosa está contida em cada ponto e nós.
A costura não foi feita em linha reta, com moldes planos, mas alinhavada como se fora brinquedos. Vestidos que contam histórias em detalhes através de bordados, colagens, desenhos, relevos, laços, referências, palavras e flores. Nenhum é igual ao outro. Cada um deles feito especialmente para uma menina entre um e 12 anos.
A costureira de sonhos deixou de produzir suas criações ao longo do mês de dezembro para priorizar a produção dos vestidinhos felizes. Como eram muitos, ela pediu apoio para suas clientes e amigos, reunindo algumas fadas madrinhas. Cada uma doou R$50. Não foi o suficiente para todos, mas Juliane cobriu o restante das despesas com tecidos e produtos de armarinho. A mão de obra foi 100% voluntária.
É importante a gente fazer algo de bom para o outro
Perguntei para a Ju, uma jovem mãe de três meninas, as modelos que provam, inspiram e aprovam a sua arte: o que a motivou? Ela foi taxativa: ver essas crianças felizes!
“Eu trabalhei quinze anos como professora em escolas municipais. Sei da necessidade dessas meninas. Elas gostam de coisas bonitas e os olhinhos brilham ao ver um bordadinho, um crochezinho, um apliquezinho… Elas não têm condição de comprar.
Eu fiz os vestidinhos felizes como se fosse para as minhas filhas, com carinho. Mas, eu também sou apaixonada pelo fazer. É minha cura, minha alegria. Minha forma de estar no mundo é costurar essas peças. É ver o sorriso dessas meninas.”
Cultura da arte do corte e costura
Proprietária da marca #MissEulália, Juliana, que começou a costurar à mão e só depois comprou uma máquina de costura, produz peças exclusivas e as divulga e comercializa via mídias sociais. Suas criações priorizam o artesanal, a reutilização de materiais e fibras naturais, inclusive tramas feitas em tear manual. Ela se inspira na tradição sempre de olho nas tendências. Cria e recria, dando significado ao material e ao ato de vestir.
Não há limites nas combinações, que incluem de crochê e tintura, de chapéus a roupas, acessórios a peças de decoração. Também roupas engajadas, produzidas especialmente para ativistas com propósito. Peças que passam mensagens provocativas e/ou amorosas.
Juliane não terá lucro com a sua produção, mas, a remuneração, às vezes, surge de outra forma. Neste caso, certamente, a “artista têxtil, poeta dos tecidos e linhas”, como ela se define, será recompensada com sorrisos e abraços.
Talvez ela derrame algumas lágrimas quando for entregar o que foi feito pelas próprias mãos para estudantes da rede pública de Juiz de Fora.
“A Miss Eulália não visa somente o lucro, o dinheiro. O que queremos é ver as pessoas felizes, usando roupas felizes! E, que neste Natal, onde o espírito de solidariedade foi retomado, que vivamos a esperança de dias melhores”, finaliza a maga Juliane Carvalho, que costura a beleza da vida.
Pois a vida, como diria Gonzaguinha:
“É bonita, é bonita, é bonita…” Precisamos “viver e não ter a vergonha de ser feliz” e fazer as demais pessoas felizes.