Viagem ao Nordeste dentro de mim

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Filho de nordestinos, aos 42 anos Rodolfo Fernando Araújo, morador em São Paulo, fez sua primeira viagem à terra natal de seus pais. Vejam que belo relato.

Por Rodolfo Fernando Araújo, analista de sistemas




Hoje faz um mês que eu e meus irmãos fomos fazer uma surpresa para meus pais no Nordeste e eu encontrei raízes.

Retorno às Raízes: Uma Viagem ao Chão que Me Sonhou

Depois do avião, foram mais de doze horas de estrada, uma travessia longa, silenciosa por fora e barulhenta por dentro. A cada quilômetro, meu peito se apertava — não por medo, mas por antecipação. Estava a caminho de Pernambuco, terra de onde brotaram as primeiras histórias da minha família materna. Terra que me chamou sem pressa, mas com firmeza. Eu precisava ir.

Chegar ali foi como abrir um livro antigo, daqueles que exalam poeira e memória. Ao pisar naquele chão quente, senti como se algo dentro de mim se encaixasse. Era como se meus pés reconhecessem o caminho antes mesmo de vê-lo. Era presença. Era pertencimento.

Olhei ao redor e vi mais do que paisagens: vi histórias que nunca me foram contadas, mas que estavam ali, vivas, inscritas nas faces enrugadas das senhoras sentadas à porta, nos olhos atentos dos homens calejados, nos gestos austeros das crianças que já carregam o peso do mundo antes da hora.

Entendi a luta. A ausência de água que rasgava o dia, o prato escasso que alimentava corpos em silêncio, a violência que moldava regras e o machismo como uma sombra que ainda ronda os lares. Vi, com os olhos marejados, o quanto cada um sobreviveu — não apenas viveu — para que, décadas depois, a vida pudesse seguir seu curso e chegar até mim.

Não foi um turismo. Foi um encontro. Um encontro com a verdade, com o legado, com a dor que não me matou, mas me fez. Ouvi histórias que não eram minhas, mas que me explicavam. Percebi que o sangue que corre em mim foi teimoso, persistente, forte. Foi um grito que ninguém ouviu, mas que não parou de ecoar.

Senti a presença de quem veio antes. Meus ancestrais, ainda que invisíveis, me abraçaram. Como se dissessem: “Você é nossa continuação. Você é a resposta.” E naquele instante, compreendi que não estou sozinho. Nunca estive. Há uma linhagem inteira me sustentando, me amando à distância, me impulsionando.

Voltei diferente. Voltei inteiro. Porque fui buscar respostas e encontrei raízes. Porque fui sozinho e voltei com uma família inteira dentro de mim.
Porque, pela primeira vez, me senti no meu lugar.

Essa viagem não foi apenas geográfica. Foi espiritual, emocional, humana. Foi em cada detalhe: de mim para mim mesmo, de mim para os que vieram antes, de mim para o mundo.

E eu agradeço.

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