Joan Jara escreveu as memórias cumprindo promessa feita ao ser exilada com suas filhas para a Inglaterra, depois do assassinato do cantor pela ditadura em 1973
Por Julinho Bittencourt, compartilhado da Revista Fórum
A obra do cantor e compositor Victor Jara é uma das mais autênticas e belas manifestações do Chile. Seu assassinato, durante o sanguinário golpe militar que tirou Salvador Allende do poder, democraticamente eleito, é um episódio revelador daqueles dias.
Joan Jara, bailarina e companheira do cantor, escreveu a memória autobiográfica de sua história com ele no livro “Victor Jara: uma canção inacabada”, que acaba de ser relançado pela editora Expressão Popular em uma edição ampliada, com fotos e um novo epílogo.
Joan escreveu as memórias cumprindo promessa feita ao ser exilada com suas filhas para a Inglaterra, depois do assassinato de Victor pela ditadura em 1973: “Tinha que […] contar ao mundo exterior, em nome dos que não podiam fazê-lo, sobre os sofrimentos do povo […]. Faria tudo que estivesse ao meu alcance para que Víctor, através de sua música e suas gravações, continuasse trabalhando pela causa que abraçara como sendo a sua própria. Seus assassinos haviam subestimado o poder da canção”.
Os últimos versos
Além de um belo álbum de fotos registrando a vida familiar e política de Joan e Victor, a nova edição apresenta uma seleção das obras de Víctor Jara e traz, como destaque, a última canção inacabada, escrita por ele no Estádio Nacional do Chile (atual Estádio Víctor Jara) enquanto estava preso: “[…] Espanto como o que vivo/como o que morro, espanto. / De ver-me entre tantos e tantos/momentos do infinito/ em que o silêncio e o grito/ são as metas deste canto./O que vejo nunca vi, /o que tenho sentido e o que sinto/fará brotar o momento…”