Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem blogado

“Deve ter morrido”. Assim me falou, de supetão, uma pessoa nas proximidades onde Fernando de Oliveira morava numa barraquinha de acampamento, quando eu perguntei sobre o paradeiro do mesmo. Fernando andava com dor de garganta e quase não saía de sua barraca na esquina das ruas Vanderlei com Apiacás, em Perdizes, Capital paulista.  Garantia que não estava contaminado pelo Covid-19.

De vez em quando, eu batia na sua barraca e perguntava se estava tudo bem. Levava um pouco de mortadela e pão, pois era o que ele pedia. Fernando sempre reafirmava não estar com Covid-19, mas a dor na garganta persistia e o amolecia.

Trabalhador, ele sempre limpava as ruas com uma vassoura e ajudava as senhoras na feira de quinta, na Pompeia. Mas com os problemas de saúde, nem isso fazia mais.

Um dia vi o dono da casa ao lado onde Fernando morava conversar com ele. Eu, com a minha desconfiança sobre os chamados classe média alta, só fiquei ouvindo.

Mas o senhor, na verdade, estava levando café e perguntando como o Fernando se encontrava de saúde.

Pois bem, recentemente não via mais o Fernando e o pior pressentimento veio quando no domingo vi o espaço vazio no lugar que sempre esteve sua barraca, há cinco meses.

Deve ter morrido, mesmo. Pensei, com muita tristeza, lembrando do triste vaticínio do vizinho. E a barraca? Bom, outro morador de rua deve ter herdado.

Mas hoje, sem muita esperança, ao ir ao supermercado dei aquela olhadinha, de soslaio, para a esquina e não é que vi o Fernando?

Fui falar com ele e a notícia era a melhor possível: estava com saúde e morando em dois cômodos na Vila Brasilândia, Zona Norte da Capital.

Daí, para fazer o vídeo acima foi rapidinho.

Salve Fernando.

Que alegria saber que o Covid-19 não o pegou e que em Perdizes, bairro classe média alta da Capital paulista, têm gente de bom coração.