Violência nas escolas: ações do governo e a fala de um estadista

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Por Graça Lago, jornalista

“Não vamos transformar nossas escolas em uma prisão de segurança máxima que não tem solução.” (presidente Luiz Inácio Lula da Silva)




No dia em que o governo federal anuncia R$ 3 bi para combater a violência nas escolas, no dia em que o ministro Flavio Dino anuncia que 225 pessoas já foram presas ou apreendidas, no caso de menores de idade, em investigações sobre ameaças de ataques em escolas, em 10 dias de operação, com 1.224 casos sendo investigados, e que 756 perfis já foram removidos de redes sociais por promoção do ódio, Lula proferiu um discurso exemplar. Falou como presidente, cidadão, pai e avô (e, a cada vez que cita os netos, sempre me comove).

Todos os anúncios foram feitos nesta terça-feira (18/04) durante mega reunião de Lula com ministros de Estado, ministros do STF, parlamentares, governadores e secretários de Educação. Mas a autodenominada “grande” imprensa fez cara de paisagem e finge não ser com ela. Será que não considerou o assunto importante? Em desagravo, aí vão trechos do discurso, que peguei no @Brasil 247 (o que seria de nós sem a mídia alternativa?)

“A violência existe desde que a gente nasceu, a periferia desse país é tomada de violência todo dia e morre muita criança e menor na periferia. O fato novo é que invadiram um lugar que, para nós, é tido como lugar de segurança. Toda mãe, quando leva o filho para uma escola, ela tem certeza de que o filho está seguro. Isso ruiu.

Ruiu porque temos um instrumento avassalador – não é o celular que é ruim, ele é ótimo. Agora, as redes – que nós não deveríamos chamar de rede social, deveríamos chamar de rede digital; e tem a rede digital do bem e rede digital do mal. E há uma predominância da rede digital do mal. As pessoas gostam de mentira, de fake news. É só ver como foi a última eleição nesse país, como é que foi nos Estados Unidos, como foi a eleição de 2018. Há uma predominância na tentativa de divulgar o falso, a mentira.

Nós plantamos jabuticaba e não vamos colher jaca, muito menos maçã. A gente vai colher o que a gente plantou, e estamos colhendo o que a gente plantou. É só ver os discursos que são feitos por esse país afora, que há uma predominância da pregação da violência. Quantos de vocês já foram ofendidos em bares e restaurantes?”.

As plataformas, grandes empresas que ganham dinheiro com a divulgação da violência, estão cada vez mais ricas. Alguns são os empresários mais ricos do planeta Terra. E continuam divulgando qualquer mentira, não tem critério. Por isso, eu resumiria essa reunião na frase do Alexandre de Moraes: as pessoas não podem fazer na rede digital aquilo que é proibido na sociedade. Não é possível que eu possa pregar o ódio na rede digital, que eu possa ficar fazendo propaganda de arma, ensinando criança a atirar. É isso que a gente vê todo santo dia.

E a verdade é que uma criança de seis, sete, oito ou nove anos repercute na escola o que ouve dentro de casa. Então, não vamos resolver esse problema só com dinheiro, elevando o muro da escola, colocando detector de metais. Fico imaginando as crianças sendo revistadas nas escolas, como seria patético para os pais, para o prefeito, para o governador, para o presidente da República e para as instituições deste país uma criança de oito anos ter que mostrar a mochila.

O que nós precisamos é ter em conta que a humanidade está mudando de padrão de comportamento e que nós, como governantes, temos a responsabilidade de tentar não permitir que a sociedade deixe de ser uma sociedade dotada de humanismo, que o ódio prevaleça sobre o bem.

Quando uma criança acha que uma arma é a solução, uma criança de oito ou nove anos, por que ela acha? Ela viu na Bíblia? Não. Ela viu no livro escolar? Não. Ela ouviu do pai ou da mãe dentro de casa. E é por isso que a gente precisa ter em conta de que, sem a participação dos pais, a gente não recupera um processo educacional correto nas nossas escolas.

Não vamos transformar nossas escolas em uma prisão de segurança máxima que não tem solução. Nem tem dinheiro para isso e nem é politicamente, humanamente, socialmente correto. Se a gente tentar fazer isso, a gente está dando a demonstração de que não servimos para muita coisa, porque nós não sabemos resolver o problema real.

O problema está no processo educacional dentro da própria família. É preciso envolver todo mundo, ninguém pode ficar fora, nem o pastor mais sectário que a gente tenha tem que ficar fora desse processo. Ele tem filho e tem que educar o filho dele. Eu tenho filho, tenho netos e tenho que educar meus netos. Nós somos os primeiros culpados, temos que pensar ‘o que eu ensino para o meu filho dentro de casa?’.

Quando meu filho tem quatro anos e chora o que eu faço para ele? Eu dou logo um tablet para ele, ensino logo um joguinho. Não tem jogo, não tem ‘game’ falando de amor, de educação. É ‘game’ ensinando a molecada a matar, e cada vez muito mais mortes que na Segunda Guerra Mundial. É meu filho e o filho de cada um de vocês, é meu neto e o neto de cada um de vocês. Duvido que tenha um moleque de dez ou doze anos que não esteja habituado a passar boa parte do tempo jogando essas porcarias.

E, hoje, a molecada joga com gente de outro país, passam noites jogando. E tudo isso resulta nessa violência no meio de crianças. Nós estamos profundamente chocados pelo que aconteceu em Blumenau, mas a gente tem que estar consciente de que isso acontece fora da escola todo dia. É que, fora da escola, a primeira coisa que falam é que foi bandido, aí a sociedade se conforma. Mas morre muita criança inocente na periferia desse país.”

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