Virou perfumaria. O futebol acabou

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Por Sergio Pugliese, jornalista do Museu da Pelada, no Facebook – 

O futebol brasileiro não anda bem das pernas e isso não é novidade para ninguém. Há anos não vem bem. Recentemente, assisti vários jogos com dois, três chutes a gol. Como um time profissional consegue passar 90 minutos, mais os acréscimos, sem assustar o adversário? No último jogo do Vasco, me surpreendi quando vi o goleiro do Avaí se aquecendo fora da grande área. Com a partida rolando!!!! Como a bola não chegava, ele deu seu jeito para não esfriar o corpo. Em um jogo do Paulistão também foram dois chutes a gol. Mas uma coisa eu preciso admitir: todos os atletas, absolutamente todos, eram estilosos. Metade dos times jogava com o shortinho levantado, penteados variados, gel caprichado, barbões bem aparados e tatuagens nos pescoços, braços, coxas e imagina-se nas partes baixas…..”sou espada!”. Agência de modelos perde! Já viram o vídeo com os jogadores do Tite se embelezando no vestiário, caprichando no secador e se admirando no espelho? Parece que a onda é outra, que estão indo para a balada. Mas qual o problema em ser vaidoso? Nenhum! Orlando Pingo de Ouro, segundo maior artilheiro da história do Fluminense, caprichava no gel, Heleno de Freitas, nem se fala, e PC Caju usava black power e roupas extravagantes. Cuidar da imagem é fundamental. Mas, hoje, há um exagero e isso também não é novidade para ninguém. Estive no CT do Canto do Rio, em São Gonçalo, nesse último fim de semana, para entrevistar o Bismarck. Caramba, que saudade do Bismarck e sua dupla com Wiliam! Ou com Geovani! Ele havia ido assistir jogos do sub 13 e sub 14 do Canto do Rio contra o Vasco. Muitos meninos chegaram ao CT com fones de ouvido e sem olhar para os lados, como se avisassem “não me importunem, sou celebridade….”. O mesmo gel, as mesmas tatuagens e os shortinhos levantados. Aos 13 anos! Certamente é assim no sub 12, 11, 10, 9….. Próximo ao alambrado, um senhorzinho olhou para um desses meninos e falou com o senhorzinho ao lado: “virou perfumaria, o futebol acabou”. Um terceiro senhorzinho entrou na conversa: “nunca devem ter pulado carniça ou soltado pipa”. Me aproximei do trio e, rindo, perguntei se pular carniça e soltar pipa poderia influenciar na formação de um jogador de futebol. Os três garantiram que sim. Um deles, inclusive, afirmou que no pique-bandeira era o rei da esquiva, o outro emendou ser imbatível no queimado e o terceiro concluiu que essa agilidade para escapar dos adversários no pique-bandeira e fugir do arremesso da bola no queimado o fizeram ser um ótimo driblador nas peladas: “Futebol é improviso e felicidade”, concluiu. Fui embora com esse ensinamento guardado. Por coincidência, ao chegar em casa abro o computador e me deparo com uma foto do artilheiro Walfrido, que fez o gol do título carioca, do Vasco, em 70. Ele estava soltando pipa, em São Januário. Ampliei aquela imagem, recheada de pureza, e fiquei ali, hipnotizado, como estivesse na galeria de um museu apreciando a poesia de Djanira, Di Cavalcanti e Portinari. Mas era Walfrido. Abaixo, vejam o comentário de Aarão Alves dos Santos, filho do grande Ponta do Santos, Manoel Maria, feito na postagem do Facebook de Sérgio Pugliese: “Meu caro, você tocou em um assunto que defendo a tempos. Estive por anos nas categorias de base do Santos FUTEBOL Clube, referência em lançar jovens diferenciados e com um futebol que consagrou o Brasil, mas infelizmente querem impor táticas e podar jovens de 9/10/11 anos. Nessa idade eles precisam se descobrir, se defender com a bola nos pés, fazendo dribles, arrancadas, usando gingas e enganando adversários. Mas não, hoje o bonito é ficar trocando passes e com poucos objetivos de chegar ao gol. Não sou contra troca de passes, até por que, o Brasil apesar de ser conhecido como o país dos jogadores que primam por jogadas individuais, também era um exemplo em trocas de passes. A seleção de 70, trocava muitos passes e nem por isso deixava de ir em direção ao gol adversário e driblavam também. Um craque você pode torná-lo atleta e cumpridor de táticas, porém um menino que apenas vi eu experiências táticas e se tornou atleta, nunca será um craque. Apesar de trabalhar com base, volto a afirmar que os treinadores brasileiros, por mais conhecimento que tenham, estão acabando com o nosso DNA, com os nossos craques. Deixem as crianças brincarem de forma disciplinada, pois estão em idade de ter todo o domínio com a bola. Sou a favor de conceitos táticos após os 15 anos. Brasil sempre formou génios dessa forma simples. Já que não temos mais ruas para brincar, senhores professores, as crianças precisam se descobrir e pensar com sua própria cabeça.”




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