Por Aquiles Rique Reis, publicado em Jornal GGN –
Em Marés, cada tema embute a personalidade de Pascoal Meirelles. A cada novo trabalho ele vem com novas soluções rítmicas para gêneros diversos-
Recebi de Pascoal Meirelles o Extended play (EP) Marés, seu 18o. álbum (independente). Pascoal é referência total na bateria. Ele tem intimidade com as peças do instrumento. Trata-as de “você”, dando-lhes o respeito que merecem, enquanto elas retribuem com o que têm de melhor: afinação, sonoridade, multiplicidade rítmica, dinâmicas e bom gosto.
Marés é um trabalho que certifica que, além de se destacar pelo vigor que confere aos arranjos, a bateria é um instrumento que pode também ser discreto, com as peles dizendo mais do que os pratos abertos – a isso pode-se chamar de virtuosismo amadurecido – maturidade de um baterista que foi e é referência para gerações inteiras de bateristas.
Como é praxe em seus álbuns, além de arregimentar um grupo de músicos de responsa, Pascoal buscou repertório entre seus colegas, mesclando composições próprias com aquelas feitas em parceria.
“Pentotal” (Pascoal Meirelles): a tampa abre com a composição que cabe à batera tocar e brilhar livremente em gêneros que Pascoal traz no sangue.
“Moleque” (Pascoal Meirelles): suave, a melodia se impõe através do piano e da delicadeza da bateria. Compassos à frente, assim como a guitarra, o baixo soa digno. O piano assume o improviso; a guitarra sola; a bateria segura as pontas e… vão.
“Gisella” (PM): nesse belo tributo à sua mãe, Pascoal assume o acompanhamento de sax e guitarra, dividindo com eles o protagonismo, ora na melodia, ora em improvisos – interlúdio de saudade à vida que já não há.
“Ninucha Blues” (PM): tema lírico dedicado a Nina Lima, parceira e companheira de Pascoal. Talvez seja a grande composição do EP.
“Nesse Trem Que Eu Vou” (Jaques Morelenbaum): Na intro, a batera puxa o que está por vir: suingue total. A melodia condiz com o arranjo. A bateria segue pontuando. A guitarra puxa um improviso campeão. O pulso firme de Pascoal segue levando o tema à frente.
“Cara de Pedra” (Jota Moraes): o piano inicia o arranjo do belo tema que inicia arritmo. Pascoal está nas percussões. Logo vem o ritmo: lá está PM no bongô. O sax brilha. Meu Deus do céu! Assim caminha a humanidade.
“Marés” (PM e Theo Heizer): na intro, a canção lenta vem com o teclado. Logo Pascoal trisca no prato. O sax vem e sola; o piano se achega; além da levada, o prato segue triscado. O baixo dá o ar de sua graça. O final se aproxima.
“Tiones” (PM): a guitarra toca intro de muitos compassos. Em alguns momentos, com exceção do prato, a bateria pouco interfere no arranjo.
“Duo” (João Castilho e PM): reunião da galera para tocar ao vivo e expor sua capacidade improvisadora. A tampa fecha.
Em Marés, cada tema embute a personalidade de Pascoal. A cada novo trabalho ele vem com novas soluções rítmicas para gêneros diversos. Toda a sabedoria que amealhou ao longo da vida está ali, firme, ajustada. A cada composição, a cada show, a cada aula, ele expressa uma evolução constante.
Seu aprendizado nos permite dizer, sem medo de errar, que Pascoal Meirelles é um mestre.