Visto assim do alto …

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Por André Mendonça, com fotos de Custodio Coimbra, Museu da Pelada – 

Recentemente, Custodio enviou ao Museu da Pelada um ensaio magnífico de fotos aéreas de diversos campos de futebol espalhados pela cidade, desde terra batida até gramados de alto nível. Vale destacar que, apesar de complicados, os registros aéreos são uma especialidade dele e as fotos dos campos não foram planejadas.




– Sempre que faço esses voos fico atento a tudo e registro aquilo que me chama a atenção. Os campos de pelada no meio de uma favela, em um prédio, chamam a atenção. Eu não vou atrás deles, eles que passam no meu campo de visão entre uma matéria e outra.

Criado em Quintino, Custodio sempre foi apaixonado por futebol e jogava peladas com o primo Zico. Com o passar do tempo, aquele que seria o futuro camisa 10 do Flamengo despertou um talento excepcional e passou a jogar com os adultos. Alguns anos mais velho, Edu já treinava para se tornar jogador profissional. Posteriormente, os irmãos bons de bola tiveram a ideia de criar um time de pelada para se divertir nos finais de semana e montaram o Juventude. Um timaço! Com menos talento do que os primos, Custodio fazia parte apenas do segundo time, o que estava longe de ser uma vergonha.

– Eu era aquele que chamam de reserva do reserva. Pela consideração, o Edu me garantia uma vaga no segundo time do Juventude. Eu entrava no fim do jogo para atuar como ponta-direita. Mas o time era muito bom, eu estava bem abaixo do nível deles. O Edu me dava essa moral! – lembrou o fotógrafo.

Se o talento com os pés não se pode comparar com o dos primos, o mesmo não se pode falar das mãos. Com dez anos, foi “mascote” de um clube de fotografia em Quintino e se apaixonou pela profissão que exerceria alguns anos depois. Na época, fazia-se o registro, a foto era revelada e, posteriormente, ampliada. Como mascote, preparava a química no laboratório e se encantava quando a foto aparecia “magicamente” na câmara escura. Logo começou a fotografar e não parou mais.

Como virtudes de um bom fotógrafo, Custodio destaca a calma, a lucidez e agilidade. Sobre a última característica, o craque revelou que a adquiriu quando fazia registros de jogos de futebol. Por ser uma atividade extremamente dinâmica, acaba exigindo um alto grau de agilidade do fotógrafo. Custodio, no entanto, conhecia bem o ambiente dentro das quatro linhas e tirou de letra o desafio. Além de cobrir a Copa do Mundo de 90, na Itália, o craque das lentes, como um bom rubro-negro, registrou inúmeros jogos do timaço do Flamengo de 81, liderado por seu primo.

– Para registrar o futebol é preciso estar com os dois olhos abertos. Um olho fica no foco da câmera e o outro atento ao deslocamento dos jogadores. Quando eu via um cara se deslocando, apontava a câmera para ele, pois sabia que ia receber o passe. Em 90% das vezes ele recebia mesmo. É aquela máxima: só recebe quem se desloca. Eu apliquei isso ao meu trabalho.

Calma e lucidez, as duas outras virtudes, são necessárias porque o fotógrafo precisa saber lidar com a situação em que se encontra independentemente da gravidade dela. Diante de um incêndio, por exemplo, o fotógrafo não pode se desesperar. Segundo Custodio, “tudo acontece” e é preciso ter calma e atenção para não perder a oportunidade de fazer um bom registro.

– A fotografia é como uma onda. Ela vai se formando e você vai fotografando sucessivamente. O momento de maior tensão, e também o de maior beleza, ocorre na hora que ela vai estourar. Esse momento é que faz uma foto ser diferente da outra.

Foi juntando todas essas técnicas que o fotógrafo conseguiu fazer os registros mais importantes da vida dele. Com muitos momentos marcantes na vitoriosa carreira, o craque aponta a cobertura do velório de Tancredo Neves, em 85, como o mais especial. Não pelo velório em si, mas pela confusão que ocorreu no evento. Os policiais demoraram a abrir o portão do Palácio da Liberdade, em Minas Gerais, e a multidão derrubou a grade de contenção. Cinco pessoas morreram e dezenas ficaram feridas. Por acaso, Custodio era o único fotógrafo que estava na área em que ocorreu a tragédia e, consequentemente, foi o único a registrá-la.

– Foi um momento trágico, mas super marcante. Eu era um cara novo e passei a ser reconhecido por muitos fotógrafos após esse trabalho. O Jornal do Brasil deu três fotos desse meu material na primeira página e mais quatro páginas dentro só com foto-legenda.

Vale destacar que, em conjunto com a mulher, a jornalista Cristina Chacel, o craque está prestes a lançar o livro “Guanabara Espelho do Rio”. A obra vai contar a história da Baía de Guanabara, desde a construção dos fortes até a inauguração do Museu do Amanhã. De acordo com Custodio, são quase 400 anos de história resumidos em 20 anos de trabalho.

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