Na quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025, o Brasil perdeu uma das vozes mais emblemáticas da música popular brasileira.
Vital Farias, compositor, cantador e violonista natural de Taperoá, no sertão da Paraíba, faleceu aos 82 anos, vítima de um infarto. Farias foi o autor de grandes sucessos que marcaram gerações, mas sua trajetória também se caracterizou por escolhas políticas controversas, o que gerou perplexidade e reflexão sobre sua identidade pública.
Compositor de uma obra rica e profundamente ligada às raízes culturais nordestinas, Vital Farias se destacou com canções como “Ai Que Saudade D’Ocê”, “Veja”, “Canção em Dois Tempos” e “Saga da Amazônia”. Essas músicas, frequentemente regravadas por outros artistas, se mantiveram imortalizadas em suas próprias interpretações. Sua obra, com forte influência da poesia do sertão, tem o poder de conectar as complexidades da vida brasileira ao sentimento universal de saudade, dor e esperança.
Vital Farias, no entanto, não foi apenas um nome na música brasileira. Sua trajetória política foi igualmente notável e, por vezes, confusa. Ao longo de sua vida, o compositor teve passagens por diferentes espectros ideológicos, transitando do PSOL ao bolsonarismo. Essa volatilidade nas suas escolhas políticas gerou grande curiosidade e discussões sobre a sua identidade política, contrastando com a imagem de engajamento que suas canções sempre passaram.
Nascido no sítio Pedra d’Água, em Taperoá, Vital foi o caçula de uma família de 14 irmãos. A sua educação formal foi limitada e autodidata, já que foi alfabetizado em casa. Sua relação com a música começou ainda jovem, quando, aos 18 anos, se alistou no exército e teve seu primeiro contato com o violão, instrumento que se tornaria a chave de sua carreira. Ao longo dos anos, seu acervo musical foi se formando, impregnada de melodias extensas e com uma sensibilidade que alternava entre a serenata e o toque popular da viola.
Em sua obra, Vital Farias retratava o sertão, mas também os afetos humanos universais. O estilo lírico e melódico de suas composições conquistou um público fiel que o viu como uma referência na música nordestina, mas também o associou a um movimento que dialogava com a brasilidade e a musicalidade popular em todo o país. Porém, sua posição política deixou marcas contraditórias em sua trajetória, com candidaturas que se descolavam de sua imagem de artista engajado, passando por diversas fases ideológicas que dividiam seus admiradores.
A morte de Vital Farias gerou lamentos entre artistas, músicos e intelectuais, mas também questionamentos sobre sua caminhada fora dos palcos. No entanto, não se pode negar que a sua música transcende essas contradições. Suas canções continuarão a inspirar e emocionar, representando a rica diversidade da música brasileira e a capacidade única de traduzir o cotidiano, as alegrias e as dores do povo.
O Legado e a Discografia
Neste fim de semana, a Contee convida os leitores a mergulharem na discografia de Vital Farias, para celebrar a imortalidade de sua música. Discos como Vital Farias (1978), Canção em Dois Tempos (1978) e Taperoá (1980) são essenciais para compreender a profundidade e o alcance de sua obra. Os discos Cantoria 1 e Cantoria 2, gravados em parceria com Elomar, Geraldo Azevedo e Xangai, são também preciosidades que merecem ser conferidas.
Cada música de Vital Farias é uma janela para o Sertão e para o Brasil profundo, um retrato de um país que ele soube cantar divinamente. Que o Sertão continue a cantar em sua memória. Que o eco de suas canções nunca se apague.
Por Romênia Mariani