Por Carlos Eduardo Alves, Facebook
Abro a porta do elevador e encontro minha vizinha de porta, uma velhinha que imagino com uns 85 anos ou mais. Como sempre faço, seguro a porta do elevador e pego em seu braço para que ela não tropece, pois anda cada vez mais precariamente. Ela me surpreende:
— Ah, filho, não queria que ninguém me visse chorando.
Os óculos escuros que quase sempre usa me impediram de notar a tristeza em estado liquido. Libero o elevador e pergunto a razão do choro. Ela lista várias doenças, nenhuma fatal imediatamente, mas algumas, somadas, capazes de fazer um ser humano desistir de tudo. Falo alguma coisa boba sobre controle médico e ela lamenta:
— Eu queria viver mais um pouquinho, mas está cada vez mais difícil
Pede que eu chame o elevador, falo mais alguma obviedade e a ajudo a entrar. Se despede com o “Deus lhe pague, meu filho” e pela centésima vez se coloca à disposição se eu precisar de qualquer coisa. Enquanto abro a porta de casa, imagino as cenas seguintes. Alguém da portaria a ajuda a descer a escada e ela segue na rua com passos cada vez mais hesitantes e se escorando em paredes para não cair.
Outro dia, em encontro semelhante, a velhinha que gosta de viver apesar do corpo exausto pedir descanso, reclamou da possibilidade de construção de um prédio ao lado de sua janela. Lamentou que teria que mudar:
— Ah,eu não vou viver engaiolada.
Minha vizinha tem o que chamo de coragem suicida pela vida. Luta por cada segundo de ar e não desiste. A velhinha é, e não existe melhor definição, foda.