Por Camilo Vannuchi, no Facebook –
Zelinha está há 41 anos no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Entrou como faxineira no mesmo ano em que Luiz Inácio assumiu a presidência da entidade.
Em 1980, foi demitida pelo interventor. Justiça seja feita, Zelinha mereceu. Fez sumir documentos e até o rolo do filme “Linha de Montagem” da sala do interventor. Eram coisas que, segundo ela, deveriam permanecer com os trabalhadores, e não com a polícia e seus infiltrados. Para que não se perdessem nem fossem destruídos pelos militares, melhor atender ao pedido da diretoria cassada e entregar a quem de direito.
Zelinha reassumiu o emprego seis meses depois, quando a diretoria cassada deixou a clandestinidade e retomou o comando do Sindicato. Por alguns anos, na década de 1980, exerceu jornada tripla. De manhã, fazia faxina e comida na casa de Lula e Marisa, no bairro Assunção. Entrava às 14h no Sindicato e trabalhava ali até 22h. Só então seguia para casa, onde também limpava, cozinhava, cuidava do marido, do filho e dos seis enteados. Não dormia.
Zelinha não esquece a receita do pé de frango que era servido com frequência na casa dos Lula da Silva. Não dava para fazer carne todo dia, o próprio Lula explicou. E o salário de torneiro mecânico, agora dirigente sindical, precisava ser administrado com muita atenção para suprir as despesas do casal e dos três filhos. A filha nunca morou com o pai. E o quarto garoto só nasceria em 1985. Foi apenas após a eleição como deputado constituinte que a situação econômica começou a dar alguma segurança aos Lula da Silva. E foi também naquela época que Zelinha, já beirando os 40 anos e cansada da jornada tripla, deixou de trabalhar na casa, permanecendo no Sindicato.
Zelinha é quem administra uma pequena lanchonete no saguão do Sindicato. Quando a neta telefonou para ela no dia 3 de fevereiro perguntando se era verdade que Marisa tinha morrido, Zelinha gritou ao telefone.
– É o quê, menina?
Emudeceu em seguida. Subiu correndo as escadas para perguntar a alguém da diretoria se a notícia era verdade.
– Os filhos da puta mataram a Marisa -, Zelinha reagiu, emocionada, com a certeza de que ninguém, nem mesmo ela, pernambucana arretada, conseguiria resistir a três anos ininterruptos de perseguição, mentiras e preconceito.
Obrigado, Zelinha, pelo café e pelas duas horas de prosa. Uma honra te conhecer.