Por Washington Luiz de Araújo –
“Temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: — “O que vem a ser isso?” Eu explico. Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores…” (Nelson Rodrigues).
Este é um pequeno trecho de crônica escrita pelo jornalista, escritor e dramaturgo, Nelson Rodrigues, há quase 60 anos, dando um puxão de orelha no brasileiro, principalmente em razão do povo não se acreditar no futebol. Mas ele se referia a outros quesitos também. Vendo hoje o triste cenário em que vivemos, dá para entender o que Nelson quis dizer com síndrome de vira-latas. Hoje, o governo golpista entrega tudo de mão beijada aos gringos e nada fazemos. Será que é porque achamos que não temos competência, talento, aptidão para gerir nosso próprio destino?
Deve ser, sim, mas tem outros componentes por trás da entrega do país. Quando só os amarelinhos CBF foram às ruas, com patrocínio principal da Rede Globo de Televisão, falavam: “Somos brasileiros e não desistimos” ou “Sou brasileiro com muito orgulho e muito amor”. Berravam que a pátria jamais seria vermelha. E outras Bazófias.
Pois bem, veio o golpe e os traíras passaram a fazer mais e mais o que sabem fazer com precisão, com descaramento: trair, entregar o país. E os amarelinhos CBF, batedores de panela contra a esquerda, agora hibernam. Quando o governo Lula resolveu investir no pré-sal, diziam que não tínhamos condições de chegarmos ás profundezas para buscar o precioso líquido negro. Contrariamos a pecha de “vira-latas” com muita tecnologia e talento.
Hoje, lemos no O Globo, que, assim como a sua mãe TV falava anteriormente de nossa incompetência, que o pré-sal já produz mais do que o Oriente Médio. Então, o que fazemos, sob os aplausos de uma classe média cega e de uma elite com olhos de lince: entregamos a Petrobras, o pré-sal, para aqueles que nada investiram. E entregamos a preço antigo de banana, pois até a fruta hoje está cara para nós. E vai junto neste embrulho, as verbas para a educação que estavam embutidas na exploração do petróleo.
E assim acontece com a Eletrobras, com os bancos públicos… Entendo que a síndrome de “vira-latas” é nossa, do povão e da classe média. A elite não tem nada desta síndrome, pois não se considera brasileira. Quer mais é voar em seus jatinhos para bem longe da gente. Plantam a subserviência, a “viralatice” em nossas mentes, colocam seus filhos nas melhores universidades da Europa e Estados Unidos e dane-se o resto.
Bem que os governos Lula e Dilma tentaram vencer este complexo, dando oportunidades aos pobres em universidades públicas, proporcionando poder de consumo, melhorando a vida do Mas o capetinha sentou-se ao lado direito do nosso ombro e encheu ouvidos de palavras de subestimação; “você não tem condições, você é um perdedor, pobre nasceu para servir quem tem dinheiro, esquece esta história de se equiparar, a desigualdade social é natural….
“Vira-latas” é o que você é, ao deixar que plantem em suas mentes estas palavras de ordem. Reaja, cara. Mostre que tem vergonha na cara. Esqueça os amarelinhos, pois estes ou são equivocados ou estão enganando você. Que patriota é este que aceita que se entregue as nossas riquezas de mão beijada? Que torce para Miami?
Pois é, Nelson Rodrigues cunhou o termo síndrome de “vira-latas” para falar principalmente da desconfiança sobre o nosso poder futebolístico e hoje vemos muito mais gente acreditando no seu time do que em si próprio. “Vira-latas”.
Curta nossa página no Facebook e acompanhe as principais notícias do dia