Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem blogado –
Historicamente, organizações e partidos de esquerda têm forte participação de jovens. Não é o que está ocorrendo, infelizmente, no Brasil. Não se procura aqui apontar culpados pela situação, mas apenas retratar a realidade. E o que isso acarreta de problemas para curto, médio e longos prazos.
Voltemos para a luta pelo final da ditadura militar, que custou tantas vidas de jovens brasileiros. E mesmo para os capítulos finais que trouxeram a volta da Democracia, quando a juventude apoiou a fundamental luta dos trabalhadores, impulsionada no ABC paulista.
Ok, eram tempos de sonhos. Vislumbrava-se a construção de um Brasil sem as botas sufocantes. Havia a esperança depois da treva imposta em 1964.
Depois da ditadura e do recomeço democrático, com o ápice na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, o mundo mudou muito. A revolução tecnológica, as novas relações de trabalho desprovidas de direitos e do senso de coletividade, a expansão de outras formas de lazer etc, tudo de novo se abriu para a juventude.
E a Política ficou para trás, é inegável, para a imensa maioria da juventude. Quem não enxergar isso, briga com o mundo que está na rua.
O pouco que resta de energia mesmo lateralmente política naquela faixa etária majoritariamente tem interesse na defesa das pautas identitárias, geralmente abraçadas pelas esquerdas, mas não participam de partidos ou sindicatos.
O retrato é esse e é inútil recorrer a lamentos saudosistas do tipo “no meu tempo era diferente”, “nós derrubamos a ditadura e a molecada de hoje é individualista” etc.
O caminho único é tentar entender o mundo contemporâneo e buscar atrair, a partir da nova realidade, os jovens para a atividade política.
Me perdoem os ortodoxos, mas aquele velho discurso aos gritos em cima de um caminhão já não chama a atenção do jovem, mesmo que ele seja proletário. É provável até que ele não escute por estar com um fone de ouvido curtindo sua música.
A luta de classes não morreu e o marxismo segue válido, mas é preciso aceitar as mudanças que levaram a juventude para longe da participação política.
Como? Não existe uma receita pronta. Talvez um bom começo seja parar com o derrotismo e a relutância em admitir diferenças. Até as pautas identitárias servem como exemplo.
Por mais que exista hoje uma fronteira que delimita o interesse da juventude por formas mais explícitas de engajamento partidário, é claro que o pessoal mais novo sabe que a direita, qualquer direita, não marchará junto em defesa de teses que são incompatíveis com o capitalismo.
Mas abrir mão do discurso que nos serviu em outras épocas é fundamental. Talvez tenhamos que aprender um pouco também;
É preciso reconhecer que não serão os “cabeças brancas” que construirão algo novo no combate aos reacionários.
Para além da obviedade que o futuro pertence aos jovens, é preciso abrir os ouvidos para eles.
Não haverá valores de esquerda perenes sem que nossos filhos e netos os defendam.
Paciência e humildade são exigências postas para os mais velhos.
A causa é eternamente justa, mas temos que nos preocupar agora com quem vai empunhar nossas bandeiras quando já não estivermos aqui.
PS.: Título do Bem Blogado inspirado na música de Belchior: “Velha Roupa Colorida”