Pablo Vilaça pelo Facebook –
Assim que se confirmou a vitória do “Leave” no referendo britânico sobre a saída ou permanência na União Europeia, por volta de duas da madrugada, comentei no Twitter (@pablovillaca) que a neodireita brasileira iria celebrar o resultado. Não deu outra: hoje de manhã, o filho de Bolsonaro já aplaudia os ingleses e pedia a saída do Brasil do Mercosul.
(Aparentemente, ele preferiu ignorar como o resultado do referendo imediatamente afundou a economia do Reino Unido.)
A posição de Bolsonaros e seus bolsominions, porém, não é chocante: se você conhece a História, não se surpreende com nada. O que houve ontem na Europa é apenas uma versão moderna da trama mais velha do mundo: economicamente reprimida, a parcela mais pobre da população se tornou massa de manobra de uma extrema direita que usa o medo e a ignorância para mobilizar o eleitor para que este vote contra os próprios interesses – afinal, foi a mesma política econômica defendida por esta direita que provocou o aumento na miséria da qual esta parte da população quer escapar. Vota-se no lobo julgando que este protegerá as ovelhas.
E a equação é clássica: população frustrada economicamente + extrema direita nacionalista = fodeu.
Mas não deixa de ser elegante como narrativa: enquanto repetimos 1964 no Brasil, o resto do planeta reconstrói o cenário que levou o mundo ao caos na primeira metade do século 20.
O mais triste é que não precisávamos seguir estes caminhos; bastava constatar o óbvio: as posições retrógradas, hostis e ignorantes de uma extrema direita que se preocupa apenas em manter e expandir os privilégios daqueles que sempre os tiveram.
Para a neodireita, não existe cultura do estupro, vivemos numa ditadura gayzista, as cotas raciais são um absurdo, não há crise climática, o comunismo ainda existe, os pobres estão explorando os ricos, o Estado não pode interferir na vida dos cidadãos (a não ser pra proibir aborto e impedir que gays se casem ou adotem filhos), o mercado não pode ser regulado (a não ser que queira mexer na velocidade da Internet ou barrar o Uber), a Cultura não tem qualquer outra função além de desperdiçar dinheiro, imigrantes são pragas que querem tomar nossos SUBempregos, “Deus” e “cidadão de bem” são obrigatórios em qualquer discurso, democracia é um conceito que só vale quando conservadores ganham a eleição, a agressão é uma forma aceitável de argumento político, a austeridade vale para políticas públicas mas não para os incentivos às corporações, a justiça só funciona quando está calando adversários ou protegendo a elite…
…e, principalmente, “ideologia” é algo feio que só a esquerda tem e quer propagar.
É como eu já disse: não há absolutamente nada de novo aqui. O que resta é que cada um de nós se posicione antes que sigamos a progressão lógica da História e mergulhemos mais uma vez no pesadelo do fascismo.