Wallerstein: como deter a virada à direita 

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Por Immanuel Wallerstein com traduçãode Antonio Martins  e i magem Eric Drooker –  Outras Palavras

Crise do capitalismo produz pobreza e dissidências ultra-conservadoras. Para vencê-las, central não é o poder de Estado, mas multiplicar nova organização a partir da base

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Como deter a virada à direita? Esta é a questão que as pessoas que se consideram à esquerda têm se colocado há algum tempo. Ela está sendo lançada, de diferentes maneiras, na América Latina, em boa parte da Europa, nos países árabes e islâmicos, no sul da Áfria e no sudeste da Ásia. A questão é ainha mais dramática porque, em mutos destes países, a virada segue um período em que houve uma certa guinada à esquerda.

O problema para a esquerda são as prioridades. Vivemos num mundo em que o poder geopolítico dos Estados Unidos está em constante declínio. E vivemos num tempo em que a economia-mundo está reduzindo severamente os recursos dos Estados e das pessoas, a ponto de o padrão de vida da maior parte da população do planeta estar em declínio. Estes são os constrangimentos para qualquer atividade da esquerda, e é possível fazer pouco para superá-los.




Surgem, de modo crescente, movimentos que denunciam a política tradicional e os partidos de centro. Eles pedem políticas de transformação radicalmente novas. Mas há dois tipos de movimentos assim, que poderíamos chamar de uma versão de direita e uma de esquerda. A versão de direita pode ser encontrada na campanha de Donald Trump à Casa Branca, na cruzada anti-drogas do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, no Partido da Lei e da Justiça, na Polônia, e em muitos outros. Para a esquerda, a prioridade número um é evitar que estes movimentos controlem o poder de Estado. Eles são basicamente xenofóbicos e exclusionistas. Usarão este controle do Estado para esmagar os movimentos de esquerda.

Ao mesmo tempo multiplicam-se, à esquerda, movimentos que se organizam com base em políticas radicalmente novas. Isso inclui a tentativa de Bernie Sanders para concorrer à presidência dos EUA pelo Partido Democrata; o esforço de Jeremy Corbin para que o Partido Trabalhista britânico reassuma seu apoio histórico a posições socialistas; o Syriza, na Grécia; o Podemos, na Espanha e muitos outros. Obviamente, quando tais movimentos parecem próximos a alcançar o poder de Estado, a direita (tanto a tradicional quanto a que se diz radicalmente anti-establishment) une-se para derrotá-los ou para forçá-los a modificar sua posição de modo abrupto. Foi o que aconteceu com o Syriza.

Portanto, este esforço tem limites implícitos. Os novos movimentos de esqueda acabam forçados a se comportar como outra versão de um partido social-democrata de centro-esquerda. Isso cumpre um papel. Limita, no curto prazo, os ataques aos mais pobres, reduzindo danos. Mas não ajuda na transformação social.

Para que prevaleça, na luta que ocupará os próximos vinte ou quarenta anos e que definirá o sistema sucessor do capitalismo existente – agora em declínio definitivo – a esquerda precisará combinar uma série de politicas. Alianças de curto prazo, para minimizar o mal que os orçamentos restritos fazem aos mais pobres. Oposição duríssima ao controle do poder de Estado pelos movimentos anti-establishment de direita. Constante organização política pela base. Isso é muito difícil e exige constante clareza de análise, opções morais sólidas sobre o tipo de outro mundo possível que queremos e sabedoria tática.O objetivo de médio prazo, de estabelecer um novo sistema-mundo que seja mais democrático e igualitário, requer ação política de outro tipo. Requer organizar-se em toda parte, na base da sociedade, e construir alianças a partir de lá – mais do que a partir do poder de Estado. Este foi o segredo do fortalecimento recente dos movimentos anti-establishment de direita.

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