O professor, ativista social e morador da Maré Walmyr Junior escreveu artigo exclusivo para o Favela 247 ironizando a decisão do governador Pezão de mandar a PM recolher jovens das periferias do Rio que tentam chegar às praias da zona sul de ônibus: “Sabendo que nem a uma praia o morador das favelas da zona norte pode ir mais, o senhor governador decreta os seguintes termos: ‘A partir de agora o povo pobre das favelas necessita de uma licença especial para transitar na zona sul. Ser favelado, negro, suburbano e querer aproveitar o lazer de uma praia, gera uma ameaça para a população e é terminantemente proibido’
Quero repudiar políticas de Segurança como essa: racistas, separatistas, intolerantes e preconceituosas. Ao invés de prevenir crimes, provoca outros, gerando mais ódio na população marginalizada. O comportamento deplorável dessa política de segurança reforça o apartheid carioca, fortalecendo as politicas higienistas e racistas implementadas no Estado que proporciona o aumento do preconceito racial no Rio e no Brasil a fora.
Pezão aprova o Apartheid Carioca
Quero informar nesta coluna que a zona sul deixa de fazer parte do Rio de Janeiro. Sabendo que nem a uma praia o morador das favelas da zona norte pode ir mais, o senhor governador decreta os seguintes termos: “A partir de agora o povo pobre das favelas necessita de uma licença especial para transitar na zona sul. Ser favelado, negro, suburbano e querer aproveitar o lazer de uma praia, gera uma ameaça para a população e é terminantemente proibido”.
O decreto ainda afirma que: Todo preto e pobre que estiver indo para praia sem esta licença será tratado como criminoso e terrorista. Esse decreto autoriza também que todas as polícias, Civil e Militar, desconfie, suspeitem e prendam todo preto e favelado, mesmo com licença, que incomodar a classe média que mora na zona sul.
Podia ser uma brincadeira, mas não é. No ultimo fim de semana um grupo de jovens moradores de favelas da zona norte foram retirado de um ônibus que chegava a Copacabana. O grupo se aproximava de 150 jovens e dos 15 que foram levados para a ‘averiguação’, 14 eram jovens negros e um era branco. Nenhum deles portava drogas ou armas.
Esquecendo que a praia é o espaço mais democrático de qualquer cidade, a investida da visão racista e militarizada do Estado sustenta um espirito segregador. Só aqui vemos o Governador do Estado aplaudir o encarceramento de jovens negros e pobres que foram retirados à força de um ônibus que partia em direção a uma praia da zona sul.
Acusados de serem responsáveis por arrastões na orla, os jovens foram amontoados num corredor, no Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente, em Laranjeiras, com fome e sede, e esperavam ali os meninos a análise de antecedentes criminais à moda do Doi-Codi de 1964. Mesmo sem a ocorrência de delitos ou provas de crimes, lá ficaram o dia todo aguardando e perdendo seu dia de lazer, oportunidade rara ou única.
A cegueira do poder público se revela mais intensa, forte e presente quando vamos para fora do eixo Leme-Pontal. As mortes quase que diárias de inocentes dentro das comunidades carentes por tiros da polícia revelam um cenário de intensa guerra e criminalização da pobreza.