Washington Olivetto, Faustão, o “politicamente saudável” e o exercício de poder

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Por Emir Ruivo, músico e produtor formado em Projeto Para Indústria Fonográfica na Point Blank London – 

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Um dia desses, Washington Olivetto mostrou porque é mestre num evento promovido pela ESPM e pela Folha, em São Paulo.

“Você tem de um lado o cara politicamente correto, que é cerceador e educadinho. Do outro, o incorreto, que é mal educado e pseudo-divertido. Temos que buscar o que é politicamente saudável, que respeita a inteligência, mas com irreverência e bom humor”.

Touché.

O politicamente saudável deveria ser o bull’s eye de qualquer tipo de humor, e até de qualquer tipo de produção artística. Ser o mais criativo, instigante e provocador possível sem exceder os limites da decência humana.




O problema é que não é tão fácil assim encontrar esse equilíbrio. Aliás, não é nem um pouco fácil.

“Sexo e as Negas” foi muito criticado. É absurdo? É apenas provocador? E o ensaio da Vogue com crianças em poses aparentemente sensuais? E o comentário do Faustão sobre o “cabelo de vassoura de bruxa” da dançarina da Anitta? E aquela instalação de alguns anos atrás em que o artista Habacuc deixou um cão passando fome num museu de Nicarágua?

Nesses casos, me lembro de uma passagem das mais brilhantes (embora um pouco piegas) do seriado Friends: a irmã diz para o irmão que o odiava quando eram crianças. Ele acha estranho, afinal sempre tinham se divertido muito. Ela responde que ele a provocava, irritava, sempre conseguia as coisas do seu jeito.

“E isso não era divertido para você?”

Todo mundo, provavelmente, já esteve nas duas posições em algum momento. O agressor nunca tem a noção de como isso chega ao agredido. Para o agressor, muitas vezes, é só diversão.

Quando Faustão disse que o Brasil estava ficando chato, depois de ver a reação que a piada com o cabelo da moça provocou, pensei nisso. Para o Faustão, a piada era só parte do divertimento. Para a moça e para tanta gente que se viu de alguma forma ofendida com o “cabelo de vassoura de bruxa”, não.

Aí, sempre ficamos divididos como, aliás, temos nos acostumado a ficar: cria-se a turma dos “malditos impositores do politicamente correto” e a dos “malditos chovinistas que falam sem pensar nas implicações”. E entender onde realmente está o politicamente saudável, como definiu Olivetto, é muito duro.

Quantas vezes algo foi visto pelo senso comum como escandaloso e, posteriormente, a história se encarregou de colocar no seu devido lugar de grande arte? Ao mesmo tempo, quantas vezes houve assédios de toda natureza com povos inteiros vistos como normais e que a história tratou de colocar, também, no seu devido lugar de aberração?

Um valor que aprendi com meu pai, provavelmente o mais importante de todos, é ser igualmente respeitoso com quem está socialmente abaixo e acima de você.

Assim, me parece que uma forma interessante de encontrar o politicamente saudável é pensar se você faria a mesma piada com pessoas ou grupos que poderiam lhe tirar o emprego ou dificultar a sua vida de alguma forma.

Quem, no Brasil, teve uma atitude exemplar nesse sentido foi o humorista Felipe Xavier. Criou Dr. Pimpolho inspirado no Tutinha, então poderoso dono da Jovem Pan.

Aí a questão é: você diria que a mulher de Roberto Irineu Marinho tem cabelo de vassoura de bruxa? Duvido. Pediria poses sensuais para a filha do editor? Talvez sim, se fosse parte do combinado. Escreveria “O Sexo e os Judeus”? Não sei. Colocaria o cachorro do dono da galeria para passar fome? Nem a pau.

Quando a resposta é “não”, não é arte, nem humor. É só exercício de poder.

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