Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
Mortos em nossas consciências. A vida nos faz com que tenhamos mortos em nossa trajetória. De acordo com nossas atitudes, temos mais ou menos peso, mas temos. Bolsonaro, Moro (que agora sai do governo como se não fosse cúmplice), Guedes ,Mandetta, o atual ministro da Saúde, Nelson Teich e tantos outros terão mortos, milhares de mortos em seus currículos, dado a inoperância, a irresponsabilidade com que estão administrando a vida das pessoas nesta pandemia do coronavírus. Terão consciência o suficiente para se culparem?
Na década de 80, assisti a uma palestra do cineasta alemão Werner Herzog no Instituto Goethe, em São Paulo. O artista falou de tudo, até do quanto admirava o jogador Sócrates – “se movimenta como uma gazela” – e, lógico sobre seus filmes. Não quis, no entanto, falar muito sobre o fime “Fitzcarraldo”, logo a minha grande curiosidade.
Filme épico, feito na Amazônia, retratando um rico aventureiro que queria construir um teatro de ópera em plena selva. Personagem polêmico, cineasta idem: Herzog fez com que um navio fosse arrastado em plena selva, com toda a dificuldade operacional, colocando vidas em risco.
O alemão não quis se aprofundar sobre o filme sob um tocante argumento, que reproduzo de memória, mais ou menos assim: “Morreram pessoas durante as filmagens. Eu tenho três mortos na minha consciência. Posso dividir com vocês minha alegria, minha felicidade, mas não posso chegar aqui e dizer: pegue um morto para você, outro para vocês e outro para você e ficar com a consciência limpa, tranquila. Não consigo”.
Pergunto novamente: terão estas autoridades irresponsáveis, os patrões abastados, algum remorso pelas vidas de milhares ou milhões que estão indo para as valas? Digo milhões, somando o mundo nesta triste história, mas não tenho notícias de irresponsabilidade tamanha como a das autoridades brasileiras.