Who’s afraid of Elizabeth Bishop?, por Izaías Almada

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Por Izaías Almada, compartilhado de Jornal GGN – 

E aí está a organização da FLIP para 2020 a propor uma “singela” homenagem à escritora Elizabeth Bishop em Parati que, enquanto aqui viveu, sempre que teve oportunidade desmereceu o país que a hospedava.

O título acima faz lembrar, com propositada ambiguidade, a excelente peça teatral de Edward Albee “Quem tem medo de Virgínia Woolf?”. Na peça, dois casais digladiam-se, já ligeiramente alcoolizados, sobre suas vidas e carreiras acadêmicas e não só, num tom de verdades, meias verdades e mentiras.

Sucesso na Broadway, em vários teatros do mundo, incluindo no Brasil, e também no cinema com grande trabalho de Elizabeth Taylor e Richard Burton.




Contudo o título da peça de Albee não só faz referência e um perspicaz trocadilho com o sobrenome da escritora inglesa, conhecida pelo seu destemido espírito libertário e feminista, mas é também uma recordação da música infantil de “Os três porquinhos”, onde o medo pode ser vencido – quando necessário – com inteligência e astúcia.

E quem tem medo de Elizabeth Bishop? Espero que ninguém. Até porque ela não causa medo a nenhum mortal. E penso que menos ainda a sua obra poética.

Tendo vivido no Brasil por vários anos, a escritora norte americana, no início dos anos 60, fez questão de pedir ao governo de seu país de origem, mais precisamente ao presidente Lyndon Johnson, uma “ajuda” para evitar que o Brasil se tornasse um país comunista.

E o incentivo veio na forma de um golpe militar em 1964, esse que querem alguns dizer que não existiu.

A velha cantilena anticomunista dos que têm medo da própria sombra. Isso mesmo. A senhora Bishop, que aqui produziu parte de sua obra, nem por isso se dispôs a uma elegância, mesmo que formal, em agradecer ao país anfitrião pela hospitalidade.

Ao contrário: também ela queria nos salvar do comunismo, esse lobo a atacar três porquinhos, meninas pela estrada afora e desamparadas vovós.

Mas esse é o velho e querido Brasil: sempre a prestigiar os de fora. As marcas da colonização não desaparecem de uma hora para outra. Quinhentos anos não foram suficientes para criarmos vergonha na cara.

E aí está a organização da FLIP para 2020 a propor uma “singela” homenagem à escritora Elizabeth Bishop em Parati que, enquanto aqui viveu – e não foram poucos anos – sempre que teve oportunidade desmereceu o país que a hospedava.

Ato falho dos organizadores? Provocação? Ou ignorância mesmo? Ou uma mistura dos três ingredientes?

E não venham dizer que é uma atitude de intolerância da minha parte para com a escritora Bishop, pois a intolerância com a cultura brasileira é um dos selos do atual governo, onde – só para ficarmos em um exemplo – o lobo mau negou-se a entregar o Prêmio Camões a Chico Buarque de Holanda.

Desculpem, desculpem… Esqueci-me de que ser intolerante com gente “da laia” do Chico Buarque é permitida… E até estimulada.

Quem tem medo do lobo mau? Lobo mau? Lobo mau?

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