A única esperança de Ciro de aspirar o poder seria através de um pacto autoritário com a direita das Forças Armadas
Por Luis Nassif, compartilhado de seu Blog
Peça 1 – Ciro, um candidato da direita
Afinal, o que pretende Ciro Gomes no pós-eleições. Pesquisa recente da ABRAPEL (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais) constatou que Ciro tem mais eleitores de direita (38%) do que de esquerda (20%).
É uma proporção menor do que de Simone Tebet e, naturalmente Bolsonaro. Mas é significativo que a soma de seus eleitores de direita supere a soma dos que se considerava esquerda e centro.
Há razões para se acreditar que parte do crescimento de Bolsonaro junto ao público jovem se deve às pregações iradas de Ciro contra Lula. Que ele se transformou em linha auxiliar de Bolsonaro, não se discute.
A questão é entender os motivos.
Peça 2 – o camaleão Ciro
Ciro é um político fiel às suas ideias do momento.
No governo Color atacou pesadamente o então governador de São Paulo, Mário Covas, por ter impedido que Fernando Henrique Cardoso e José Serra aceitassem convite para se tornar ministros de Color.
No Plano Real, foi um defensor quase selvagem da apreciação cambial e se tornou a esperança de grandes eleitores como ACM e Paulo Maluf. Especialmente quando aceitou o convite de Harvard para um daqueles cursos destinados a cooptar políticos da periferia. Hoje em dia, atribui corretamente à apreciação cambial a desindustrialização do país.
Nas eleições de 2002 aceitou como assessor econômico Marcos Lisboa, o pai da futura “ponte para o futuro”, como contrapartida para o apoio de Jorge Paulo Lehman.
Peça 3 – a caminhada para a direita
Para as eleições deste ano, aproximou-se da escola desenvolvimentista de Luiz Carlos Bresser Pereira, cujo grupo ajudou na construção do seu manual de governo.
Mas foi só o ponto de partida. Hoje em dia, compartilha de um conjunto de princípios que o aproximam muito de um certo pensamento militar-conservador alimentado por um grupo de militares que gravitam em torno de Aldo Rabelo – o ex-Ministro de Dilma cujo sonho é um pacto ruralistas-Forças Armadas para salvar o país.
Rebello é um político inexpressivo, mas que se tornou porta-voz de um conjunto de princípios autocráticos batizados de Quinto Movimento. E Bresser-Pereira nada tem a ver com isso.
Segundo ele, o Primeiro Movimento foi a delimitação do território brasileiro, até o Tratado de Madri. O Segundo foi a construção da independência. O Terceiro foi a consolidação da unidade territorial. O Quartto foi a construção da República, da era Vargas até agora.
O Quinto, modestamente, são suas ideias para o Brasil retomar a reconstrução inacabada.
Peça 4 – o Dugin brasileiro
Esse pensamento é derivado de uma linha nacional-autocrática que tem em Steve Bannon e no russo Alxandr Dugin os maiores expoentes.
Partem de muitos diagnósticos corretos sobre a crise das democracias ocidentais e da globalização. E propõem bandeiras salvacionistas, que exigem dos seguidores fidelidade total aos princípios definidos por eles, não aceitam nenhuma bandeira identitária, nenhum projeto social que não esteja debaixo do guarda-chuva salvacionista.
Enfim, é a cara de Ciro Gomes e do general Rocha Paiva, autor do tal Projeto de Nação apresentado pelo Instituto Sagres, de militares da reserva.
Segundo Aldo, a parceria com os ruralistas se deveria ao fato de ser o único setor ainda não dominado pelas multinacionais e pelo globalismo.
Esse grupo tem como principais alvos o que eles chamam de liberais-progressistas – defensores do mercado que trabalham por uma amenização na superexploração do trabalho. E situam Lula nesse campo. Eles são os inimigos a serem destruídos, não os liberais-reacionários, que ajudam a acelerar o processo de descrédito da democracia liberal.
Peça 5 – Ciro Putin
As eleições atuais significam o fim do projeto político-eleitoral de Ciro Gomes. Não terá mais condições políticas para concorrer a uma nova eleição presidencial. Uma avaliação de seu eleitorado mostra baixíssimo nível de envolvimento com a campanha,.
Sua única esperança de aspirar o poder seria através de um pacto autoritário com o único segmento que lhe poderia dar alguma expectativa de poder: a direita das Forças Armadas.
É por aí que se entende seus ataques baixos contra Lula – envolvendo até seus filhos. De um lado, vai cavando espaço junto ao novo alvo, a direita armada. De outro, tenta tirar do jogo o único político capaz de tirar o país da rota do abismo. E o pensamento central dessa ultra-direita dunguista-olavista é o fundo do poço, o descrédito final em todas as instituições, para dali ser remontado um novo país conduzido por iluminados-autocráticos.
Se Lula for eleito, aparecerão todos os crimes da família Bolsonaro, e a direita sairá ansiosa atrás de um novo líder, mais racional e honesto.
Se Bolsonaro for eleito, será uma bomba de efeito retardado a explodir a qualquer momento. E, mais uma vez, haverá espaço para um líder de direita que reforce o discurso autocrático e anti-corrupção.
De qualquer modo, Ciro tenta se qualificar para ser um Putin brasileiro, desfraldando a bandeira de um país que nunca se fez. E Rebello será o candidato a Dugin.