Xadrez sobre os hackers de Araraquara

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Por Luis Nassif, publicado em Jornal GGN – 

A resposta estará nas investigações da Polícia Federal. E está em jogo a própria sobrevivência da PF como instituição permanente.

É mínima a possibilidade dos quatro de Araraquara serem os responsáveis pelo dossiê do Intercept. Pelas informações de especialistas, o sistema de hackeamento é complexo exige conhecimento técnico, processamento demorado e é feito por tribos que se comunicam internacionalmente.

Por isso mesmo, há muitas coisas a serem esclarecidas ainda.




Capacidade técnica de fazer o hackeamento -. Um pequeno estelionatário, sem formação, sem turma, especialIzado em pequenos golpes de cartão de crédito não teria conhecimento para tanto.

Segundo uma publicação que teria tido acesso a um comunicado do Anonymus Rio:

“O método apresentado pela PF, apesar de tosco, é possível. Mas perguntas surgem. Porque esses criminosos, mesmo sabendo da seriedade de invadir conversas de mil autoridades, não tomaram medidas de segurança simples? Por que não se livraram da prova de seus crimes mesmo com toda a repercussão nacional e internacional dos vazamentos?”.

O comunicado cita ferramentas como VPN’s, redes privadas virtuais, que servem para “mascarar” a atividade e são utilizadas por hackers e profissionais de segurança. Inverossímil

O script – no seu depoimento, o hacker Walter Degatti Neto traçou um script bem ensaiado sobre a maneira como foi obtendo celulares de autoridades. Verossímil

O contato com Manuela Dávila – sabe-se que procurou Manuela e, através dela, conseguiu o contato com Glenn Greenwald. Para comprovar o grampo, teria apresentado uma gravação obtida nas conversas. Verdade

O contato com Glenn Greenwald – O jornalista mostrou um diálogo com sua suposta fonte, negando qualquer relação com grampos em Sérgio Moro e companhia. Ao mesmo tempo, suspeito e advogado sustentam que a única aproximação com Glenn foi virtual. Não houve nenhum contato presencial. Sem confirmação.

Versão de Moro e da Globo – antes mesmo que a Polícia Federal periciasse os celulares ou inquirisse os araraquarenses, Sérgio Moro já mostrava certeza de que eles haviam fornecido o material para o The Intercept. Antes mesmo de Moro, O Globo já antecipava essa conclusão, sem haver nenhum contato com a PF. Suspeito

Leia também:  Mensagens do hacker de Araraquara eram postadas de Brasília desde o dia 15 de julho

Uso do material – Imagine um pequeno estelionatário, especialista em golpes com cartão de crédito, sem histórico político ou de participação em tribos de hackers, dispondo dos cartões de mil pessoas, entre elas alguns dos homens fortes do regime. A troco de quê perderia tempo em uma operação típica de hacker – levantar informações confidenciais de autoridades, de interesse público – podendo encher as burras de dinheiro? Inverossímil.

A seriedade da Polícia Federal – há informações de que a equipe que conduz o caso é séria. No entanto, alguém vazou para Moro a lista de número de celulares de autoridades encontrado com Walter Degatti Neto. E vazou para o Jornal Nacional trechos de depoimentos sigilosos. Ponto de dúvida

A partir desses fatos, há um conjunto de dúvidas. E duas hipóteses possíveis.

Hipótese 1 – uma operação armada pelas organizações que sustentam Sérgio Moro.

Sabendo que houve um hackeamento nos celulares da Lava Jato, montar uma operação rápida com um pequeno estelionatário do interior de São Paulo, vulnerável – porque com ampla capivara na Justiça – para, a partir dele, incriminar o The Intercept.

O sujeito teria sido preparado voltando para o Twitter, iniciando uma militância extemporânea, ao mesmo tempo em que seriam providenciadas tentativas de hackeamento em autoridades. Depois, haveria um ensaio com ele sobre uma narrativa verossímil.

Descoberto pela Polícia Federal, confessaria ter sido o fornecedor dos arquivos para o The Intercept, tendo recebido por isso. A partir daí, estaria configurado o crime do jornal.

A pressa de Moro de destruir os arquivos seria para evitar a perícia que pudesse atestar que não se trataria do mesmo divulgado pelo The Intercept.

É hipótese forte, que exigiria uma boa retaguarda de hackers para montar a narrativa.

No entanto, essa versão não bate com a confissão de Degatti, de que não recebeu nada pelo envio, praticamente inocentando o The Intercept.

Há uma explicação para isso. Se admitisse o pagamento – mesmo não tendo ocorrido – Vermelho estaria sujeito a prisão. Ao negar, ele cumpriu sua parte no script, jogou a suspeita no meio da sala, mas não se autoincriminou.
Repito: é apenas hipótese a ser investigada.

Hipótese 2 – Degatti representando hackers

Nesse caso, haveria uma tribo de hackers por trás, que utilizou Degatti como intermediário. Mas não bate também. A troco de que recorrer a um pequeno estelionatário, sem tradição no mundo dos hackers, e sem conhecimento maior do universo político e midiático?

A resposta estará nas investigações da Polícia Federal. E está em jogo a própria sobrevivência da PF como instituição permanente. Há seriedade em algumas manifestações, mas vazamentos de interesse de Sergio Moro.

É curioso que dois episódios centrais na carreira recente de Bolsonaro – o esfaqueamento e o dossiê – tenham como autores pessoas totalmente desequilibradas.

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