Yes, já tivemos holocausto no Brasil

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E a coluna “A César o que é de Cícero”, do doutor em Literatura Cícero César Sotero Batista, nos leva a um campo de concentração que foi instalado não em Auschwitz, não em Teblinka, não na triste Gaza de hoje, que sofre um verdadeiro genocídio imposto pelos sionistas do Estado de Israel, não nas prisões brasileiras na qual nossa dita Justiça senta em cima.

César sai dos textos pitorescos, bem humorados que lhes são de costume, para tocar o dedo numa ferida que muitos pensam que cicatrizou, a morte de pobres abandonados num hospício. César fala aqui do filme “Holocausto Brasileiro”, que nasceu do livro da autora das duas obras, a jornalista, escritora e documentarista Daniela Arbex.




Vamos ao texto:

“1º de março de 2024.
Josué,
Não falemos nem de Van Gogh nem de Lima Barreto nem do arauto Artaud nem de Torquato Neto. Não falemos nem de Foucault nem de Goffman nem de Basaglia nem de Nise da Silveira, pelo menos não para arrotar erudição. Não falemos nem de psiquiatria nem de antipsiquiatria. Não falemos nem das flores de Engenho de Dentro do Aldir Blanc* nem do Desloucura Suburbana nem do rapaz do Pinel que tocou flauta no ENEH de 1993.
Falemos dos loucos anônimos que foram lançados em manicômios como o de Barbacena, tal qual são apresentados no documentário “Holocausto Brasileiro”, disponível na Netflix. Eu fico na dúvida se era melhor ter visto o filme ou não. Não sei mais se tenho estrutura para certas cenas: até que ponto somos capazes de chegar – e com a ciência da época dando o devido respaldo?

De quem é a responsabilidade?

Falemos de Sueli, personagem do documentário “Em nome da razão” (Dir. Helvício Ratton, 1979), disponível no YouTube. Que canção tu fizeste, Sueli. É uma paródia de marcha militar. Como você denuncia tudo o que está errado em dois minutos. Tão bem quanto Bob Dylan.
“E o macarrão parece cola de colar balão!”
“E as funcionárias são as putas mais ordinárias!”


Sabe, Sueli, eu conheço um pouco de verso e um pouquinho de letra de canção. Por isso posso dizer: A sua canção é grande.


Não falemos de “Dura na queda”, atualização de “Ela desatinou”. Não é culpa da canção, é que o buraco é mais embaixo em Barbacena.


Spoiler: uma louca deu à luz uma criança que foi levada para adoção. Anos depois a criança descobre que é adotada e vai à procura da mãe. Sua mãe é Sueli.
Pílulas rosas, azuis. Eletrochoque. Lobotomia.
Até que ponto somos higienistas?


Estou triste, tristíssimo, incuravelmente triste.

*Música “Catavento e Girassol”, de Aldir Blanc e Guinga

Informações sobre o filme que nasceu do livro “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex.

https://www.uol.com.br/splash/noticias/2024/02/27/holocausto-brasileiro-OIndocumentario.htm#:~:text=%22Holocausto%20Brasileiro%22%20conta%20as%20hist%C3%B3rias,e%20tiveram%20suas%20vidas%20silenciadas.

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