Z relata as 30 horas de sofrimento nas mãos daqueles que deveriam protegê-los, a polícia

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Da Redação: O blog conversou com uma das 21 pessoas que foram presas de forma arbitrária no último domingo (04 de setembro), antes da grande manifestação em São Paulo contra o golpe parlamentar que assola o país. A pessoa não quis se identificar, pois demonstrou toda a sua fragilidade em decorrência de uma polícia violenta que tem infringido danos físicos e mentais em quem quer somente exercer seu direito constitucional de protestar.

Vamos chamar a pessoa de Z, que ainda se encontra atônito(a), mesmo cerca de 60 horas depois do acontecimento. “Não comecei a processar ainda na minha cabeça tudo o que passei. Só sei que trago comigo uma revolta gigante no peito”.




Jovens presos no Centro Cultural São Paulo, antes da Manifestação

Z conta ter feito contato com outros manifestantes por um evento no Facebook, não conhecendo ninguém do grupo, por medo da pressão policial, para não ir só à manifestação.

Mas o medo da repressão policial se concretizou: “Estávamos sentados na calçada, próximo ao Centro Cultural Vergueiro, por volta das 15 horas, quando mais de 20 policiais chegaram fortemente armados, como se estivessem indo para uma guerra, em umas 10 viaturas. Só a presença daquele aparato todo já intimida qualquer um, pois sou uma pessoa totalmente de paz”.

Todos foram levados de ônibus até o prédio do Deic – Departamento Estadual de Investigações Criminais. Todos não, um deles não seguiu junto. Desconfia-se que deve ser infiltrado da polícia. Dos 21, três eram menores de idade.

No Deic ficaram cerca de sete horas incomunicáveis, sem acesso à família e advogados. Somente com a chegada do ex-senador Eduardo Suplicy é que tiveram contato com pessoas de fora e advogados.

“Ficamos num corredor o tempo todo. E eu perguntava: “Por favor, eu não tinha que estar com meu advogado aqui? Respondiam: “Fiquem tranqüilos, não é hora de advogado”. Sem nenhuma experiência neste assunto, só depois soube que as sete horas sem contato eram ilegais”, afirma Z.

O defensor público Marcelo Carneiro Novaes, que ficou postado na frente do prédio do Deic,  na tentativa de interceder  pelos presos,  afirmou:  “Em 32 anos de advocacia é a primeira vez que vejo um defensor público ou um advogado não conseguir ingressar num prédio público onde são exercidas as atividades da polícia judiciária”.

No dia seguinte (dia 05/09), depois de 30 horas, o juiz do Tribunal de Justiça de São Paulo Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, procedeu a libertação dos jovens, com uma sentença que irá para a história contra o arbítrio que já se pratica no país: “O Brasil como Estado Democrático de Direito não pode legitimar a atuação de praticar verdadeira ‘prisão para averiguação’ sob o pretexto de que estudantes poderiam, eventualmente, praticar atos de violência e vandalismo em manifestação ideológica. Este tempo, felizmente, já passou”.

juiz desautoriza prisão de manifestantes pela PM

Z afirma que foram horas de sofrimento, de fragilidade, impotência: “O sentimento é de completa impotência, sem saber o que vão fazer com a gente”.

Afirmou o juiz ainda: “Vivemos dias tristes para nossa democracia. Triste do país que seus cidadãos precisam aguentar tudo de boca fechada. Triste é viver em um país que a gente não pode se manifestar”.

Mesmo com a liberação, os jovens ainda estão sendo investigados pela polícia, sendo que os telefones celulares foram todos confiscados.  Eles são acusados de associação criminosa e corrupção de menores.

Ainda a sentença do juiz Tellini: “Destaco que a prisão dos indiciados decorreu de um fortuito encontro com policiais militares que realizavam patrulhamento ostensivo preventivo e não de uma séria e prévia apuração de modo que qualificar os averiguados como criminosos à míngua de qualquer elemento investigativo seria, minimamente, temerário”.

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