Nome de Cristiano Zanin, que toma posse como ministro do STF, está indissociavelmente ligado à defesa dos primados da democracia e do estado de direito
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Na foto: Cristiano Zanin Martins, ministro do Supremo Tribunal Federal (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)
Conheci pessoalmente Cristiano Zanin na manhã de primeiro de outubro de 2018, na sede da Polícia Federal de Curitiba. No saguão do prédio, o advogado se credenciava para visitar seu cliente que cumpria sentença de prisão determinada por Sergio Moro.
Eu estava ali pelo jornal El País, para fazer uma entrevista com Lula, autorizada pelo ministro Ricardo Lewandowski. Entrevista que seria desautorizada horas depois, pelo então presidente do STF, Dias Toffoli.
Nas rápidas conversas que tivemos naquele dia, um comportamento do advogado me chamou a atenção: a maneira comedida e equilibrada com que ele recebeu a notícia de mais um revés de seu cliente na Justiça.
Uma postura importante nos embates que teve com o juiz parcial da Lava Jato. Moro demonstrava prazer em exibir arrogância, prepotência e desrespeito às manifestações firmes da defesa.
Como especialista em litígios empresariais, Zanin teve sucesso em vários processos importantes, como as da falência da Transbrasil e da Varig e, recentemente, como advogado das Lojas Americanas.
O fato de Zanin ter assumido a defesa de Lula causou, na época, um certo burburinho. Isso porque Zanin, embora reconhecidamente competente, não aparecia nas listas dos grandes medalhões do direito penal, principalmente na grande mídia.
Porém, no decorrer das ações movidas contra Lula pela Lavajato, midiaticamente exploradas, inclusive com exibição das audiências nos telejornais diários – a atuação diligente e combativa de Zanin foi se revelando. Assim como a orientação técnica e a linha de coerência que manteve na condução da defesa de Lula, rechaçando benefícios de prisão domiciliar e enfrentando com altivez os desmandos da “republica de Curitiba”. Lula acabou aceitando os argumentos de Zanin de não fazer qualquer acordo, ainda que isso o levasse, como de fato levou, às agruras e à tristeza de passar mais de quinhentos dias na prisão. Um isolamento, que na história da humanidade outros grandes homens corajosamente enfrentaram: Gandhi, Luther King e Mandela.
Zanin acreditou o tempo todo na absolvição de Lula, e ela veio carregada de simbolismo e emoção.
Pouco antes de proclamar o resultado do julgamento no STF, declarando o ex-juiz Sérgio Moro suspeito na condução do processo contra o ex-presidente Lula na Lava Jato, o ministro Gilmar Mendes elogiou a atuação de Cristiano Zanin Martins: “Sem dúvida nenhuma, vimos um advogado que nunca se cansou em trazer questões ao tribunal, muitas vezes sendo até censurado, incompreendido… Nós fazemos, eu faço, na pessoa do doutor Zanin, uma justa homenagem à advocacia brasileira”, afirmou o magistrado, com a voz embargada e lágrimas nos olhos.
Quem diria que passados 5 anos daquele momento tão difícil da nossa democracia, eu viria aquele homem magro, alto, elegante e sóbrio ser empossado ministro da mais alta corte do país, indicado pelo presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, vítima de lawfare, que ele tão competentemente ajudou a libertar. O nome de Cristiano Zanin Martins está indissociavelmente ligado à defesa dos primados da democracia e do estado democrático de direito.