Por Miguel Arcanjo Prado, para o Portal R7 –
Nesta quarta (5), José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, 77 anos, terá de depor, às 14h, no Juizado Especial Criminal do Foro Central Criminal Barra Funda, em São Paulo, onde tem audiência preliminar do processo 0056740-71.2013.8.26.0050, no caso movido por um promotor da Justiça Pública.
A Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, da qual Zé Celso é diretor, é acusada de “crime contra a paz pública”. Tudo porque Zé Celso e seus artistas encenaram uma adaptação de uma cena do musical Acordes em 2012, no campus da PUC-SP.
A encenação pública do texto inspirado em Bertolt Brecht foi realizada em novembro de 2012 a convite dos estudantes em protesto contra a posse de Anna Maria Marques Cintra, que havia ficado em terceiro lugar na eleição para o cargo de reitor da instituição.
Os artistas da companhia farão um ato pela paz em frente ao Fórum no horário do depoimento.
Em texto publicado em seu blog quando a ação foi movida, Zé Celso definiu sua convocação pela Justiça de “um ato contra a liberdade de expressão”.
— Querer incriminar os artistas de teatro por esta cena é um atentado à liberdade de expressão do ator.
http://player.r7.com/video/i/545a68e82bc24321f001c5ac
Assombro
O diretor vê com assombro o crescente conservadorismo no País. Ele e seus artistas também ficaram assustados com a passeata na avenida Paulista que pediu a intervenção militar no País no último sábado (1º).
Sempre antenado com seu tempo, a marcha da extrema direita estará no palco do Oficina no próximo fim de semana, quando o grupo encerra o Festival das Cacildas, com entrada gratuita. O depoimento desta quarta (5) também deverá entrar na obra.
Vítima da ditadura
O Teat(r)o Oficina foi uma das grandes vítimas da ditadura civil-militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985.
Durante os anos de chumbo, os atores do grupo foram violentamente agredidos, e Zé Celso precisou partir para o exílio na década de 1970, após ser preso e torturado.
Mas ele e seu Oficina sobreviveram ao horror e estão aí para confrontar com arte o rompante antidemocrático da extrema direita brasileira.
Cenas reais
Zé Celso colocou no palco cenas reais dos golpistas em marcha pela Paulista, com suas vestimentas ufanistas em verde e amarelo e até discurso do cantor Lobão.
O ator Beto Mettig conta ao R7 que imagens reais passarão nos telões do Oficina.
— Tanto Cacilda!!!!! quanto Walmor y Cacilda são montagens vivas. A cada semana elas refletem o que os artistas vivem e o que o próprio País está passando, tanto no texto quanto nas interações que o espetáculo tem.
Só mais duas sessões
Serão apenas duas sessões: uma apresentação de Cacilda!!!!! A Rainha Decapitada, no sábado (8), 19h, e de Walmor y Cacilda 64 – Robogolpe, no domingo (9), 19h. Ambas gratuitas e com legendas em inglês.
Cerca de 60 artistas desfilam pela passarela-palco do Oficina nas duas montagens, agora, mais politizadas do que nunca.
Cacilda!!!!! descortina o embate entre Cacilda Becker e Tônia Carrero, mostrando o fim de uma era do teatro nacional, marcada pelas produções luxuosas do TBC, o Teatro Brasileiro de Comédia.
Já Walmor y Cacilda é um espetáculo-manifesto de Zé Celso sobre os horrores praticados pelo golpe civil-militar de 1964, sobretudo no mundo artístico.
Festival e dezembro pulsante
Ainda neste mês, o grupo se apresentará com Walmor y Cacilda no Fentepp (Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente), que acontece entre 22 e 29 de novembro.
Em dezembro, o Oficina fará outra maratona: apresenta cinco espetáculos da sérieCacilda um após o outro, entre 12 e 23 de dezembro. Antes, fará a Lavagem do Bixiga, no dia 2 de dezembro, e no dia 5 de dezembro uma concorrida festa em homenagem a Lina Bo Bardi.
Zé Celso e sua aguerrida turma não param. Ainda bem.
Festival das Cacildas
Quando: sábado (8) e domingo (9), às 19h
Onde: Teat(r)o Oficina (r. Jaceguai, 520, Bixiga, São Paulo, tel. 0/xx/11 3106-2818)
Quanto: Grátis
Classificação etária: 14 anos