Zé kéti, a voz do morro que ocupou o asfalto, nasceu há 100 anos

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Por Augusto Diniz, compartilhado de Carta Capital – 

Autor de clássicos, como Leviana, Diz que Fui por Aí, Máscara Negra e Opinião, foi figura singular do samba

Foto: Marco Aurélio Olímpio

FOTO: MARCO AURÉLIO OLÍMPIO




No dia 16 de setembro de 1921 (embora registrado em cartório como 6 de outubro) nascia em Inhaúma, Zona Norte do Rio de Janeiro, José Flores de Jesus, apelidado de Zé Quietinho porque era quieto e, depois, de Zé Kéti. Figura singular do samba, ficou conhecido depois de levar a voz do morro ao Cinema Novo e ao teatro de protesto do grupo Opinião.

O marco do Cinema Novo, Rio, 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos, mostrava a realidade da então capital federal. A Voz do Morro (“Eu sou o samba / A voz do samba sou eu mesmo sim senhor / Quero mostrar ao mundo que tenho valor / Eu sou o rei dos terreiros”) é a trilha de fundo da desigualdade social ali exposta. O autor da música, Zé Kéti, é ele próprio personagem do filme em busca de ascensão social.

Depois desse, outros filmes enfocados nas questões brasileiras tiveram trilhas de Zé Kéti, que personifica o morador do morro e autor de sambas.

Anos depois, outra inserção importante de Zé Kéti no movimento engajado promovido pelo asfalto partiu do grupo Opinião, movimento de oposição à ditadura. Em 1964, com direção de Augusto Boal, realiza-se o espetáculo com o suburbano Zé Kéti, o migrante João do Vale e a menina da Zona Sul Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia).

O tema-título do espetáculo, um misto de música e teatro, é uma obra-prima de Zé Kéti, a música Opinião: “Podem me prender, podem me bater / Podem até deixar-me sem comer / Que eu não mudo de opinião”.

As andanças desde cedo no subúrbios e vielas da cidade, tanto para música como para levantar algum dinheiro, por certo propiciaram ao cantor e compositor bagagem para fazer crônicas musicais bastante representativas.

Entre elas, além das citadas, estão: Acender as Velas, Diz que Fui por Aí (com Hortêncio Rocha), Leviana, Máscara Negra (com Pereira Matos), Mascarada (com Elton Medeiros), Nega Dina e O Meu Pecado.

Marco do Carnaval

Leviana foi a primeira composição de sucesso de Zé Kéti, na voz de Jamelão, em 1954. Já a marcha-rancho Máscara Negra, de 1967, é um marco: trata-se de uma das maiores músicas de Carnaval de todos os tempos (senão a maior), com simbologias da festa do Momo (“Tanto riso, oh, quanta alegria / Mais de mil palhaços no salão…”).

As duas, no entanto, chegaram a dar dor de cabeça a Zé Kéti para comprovar autoria. Naquela época, o sistema de registro autoral criava lacunas para questionamentos. Quando a composição se tornava sucesso então…

No meio do samba isso era piorado, por que muitas delas saíam em encontros e festas informais de sambistas, onde às vezes um ouvido mais atento (e esperto) tomava para si ideias alheias.

Zé Kéti foi também empreendedor. Ele foi sócio de barraca de peixe. Chegou a entrar para a Polícia Militar, abrir firma de obras de prédio e teve uma companhia marítima de navegação entre São Gonçalo e Ilha de Paquetá.

Portelense, na escola teve a oportunidade de conviver com grandes sambistas e formar grupos de samba. Morreu em 1999, sem ser lembrado tanto pela sua obra. Incorporava o jeito de malandro, com chapéu de aba curta, e gostava de ir atrás de um rabo de saia.

Que os 100 anos de nascimento coloquem o cantor e compositor Zé Kéti mais perto de Nelson Cavaquinho e Cartola do que a história já o fez até hoje.

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