‘Zelotes’, nome errado para a mãe de todos os escândalos

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Por Alberto Dines, Observatório da Imprensa – 

Ao revelar à sociedade brasileira a designação da nova operação contra as malfeitorias praticadas contra o erário pelos maiores grupos empresariais do país, a Polícia Federal errou na filologia: na linguagem corrente, zelote ou zelota (do grego zelotes, imitador) tem conotação negativa: zelo falso, devoção simulada, tartufo, enganador.

Sob o ponto de vista estritamente histórico, o grupo de judeus que se intitulavam Canaim, Cananeus (século I da Era Comum), eram fervorosos defensores da expulsão dos romanos da Terra Santa. Pagaram por isso. Inclusive o mais célebre de todos. Um dos seus seguidores, conhecido como Simão, o Zelota, fez parte deste grupo.




O termo foi resgatado recentemente por um diligente historiador americano de origem iraniana, Reza Aslan, que coligiu e compactou os mais importantes estudos publicados nos últimos dois séculos sobre os primórdios do cristianismo e produziu o best-seller Zelota, a vida e a época de Jesus de Nazaré (Zahar, 2013).

O alvo da operação policial são as empresas que tentaram eliminar ou diminuir os seus débitos junto ao CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão que funciona como uma espécie de tribunal da Receita Federal). Pagaram fabulosas propinas aos funcionários do órgão para produzir pareceres favoráveis às empresas infratoras e/ou tentaram outras maracutaias.

Quem recebeu a documentação da Polícia Federal e teve o privilégio de revelar o escândalo foi oEstado de S.Paulo, por meio de sua sucursal de Brasília (sexta-feira e sábado, 27 e 28/3, com manchetes na capa). Não fez investigações complementares. Em compensação, publicou tudo. Ou quase.

Ao largo

Considerado o maior escândalo na história da Receita Federal, o prejuízo contabilizado por enquanto é de quase 6 bilhões de reais, mas envolve processos que somam 19 bilhões de reais – quase o dobro do dez bilhões de reais da Operação Lava Jato. Entre as empresas implicadas na malfeitoria estão os bancos Bradesco, Santander, Pactual, BankBoston e Safra, as montadoras Ford e Mitsubishi, o conglomerado-gigante BR Foods (marcas Sadia e Perdigão, entre outras), Light e grupos Gerdau e RBS.

No caso desta última, o Estadão mencionou que se trata de um grupo que opera no ramo das comunicações, omitiu que se trata do terceiro maior do país nesse segmento e importante parceiro da Rede Globo no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Não revelou os títulos dos importantes veículos do conglomerado, porém detalhou os valores da infração, aliás a menor da lista: pagou a propina de 15 milhões reais para obter uma redução de 150 milhões no seu débito. Excelente negócio.

No sábado (28/3), o intrépido Globo não teve outra alternativa senão noticiar a Operação Zelotes (numa distante página da seção de Economia) citando nominalmente alguns infratores. O nome do parceiro da Rede Globo evaporou. Isso acontece quando o tempo está quente. Evidentemente respeitou-se o sobrenome da família que fundou e tem o controle do conglomerado. Afinal, há jornalistas com o mesmo sobrenome e brilhante currículo que nada tem a ver com a Zelotes. Naquela noite o Jornal Nacional, ao noticiar a operação, deu o nome do grupo e a sua filiação à Rede Globo. Mas rapidinho, como convém.

Na Folha de S.Paulo de sábado, igualmente na última página do caderno “Mercado-1” (B-7), há um resumo da operação da PF com o nome dos denunciados inclusive no ramo da comunicação social.

Em dívida com os seus leitores, o Valor Econômico de segunda-feira (30/3) passou ao largo do escândalo. As empresas implicadas agradecem. As que pagam seus compromissos e respeitam a lei devem se sentir lesadas. Isso também acontece.

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