Zema e Leite: o retrocesso em dose dupla  

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Por René Ruschel, jornalista, para o Bem Blogado

Em Minas Gerais, o governador propõe um apartheid, um fosso social onde os excluídos sejam separados na vala comum da miséria. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, PSDB, se adiantou em apoia-lo. Os dois estão de olho em 2026 e querem os votos da extrema-direita que apoia o ex-capitão inelegível.




A entrevista do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, Novo, ao jornal O Estado de S. Paulo, quando defendeu a secessão política entre o norte e o sul do Brasil, mostra a cara de uma elite insensível, cruel, que busca apenas seus sortilégios econômicos.

Aliás, Zema atirou contra o próprio pé, pois o estado que governa tem 249 municípios localizados no Vale do Jequitinhonha que recebem os mesmos benefícios e incentivos concedidos ao norte e nordeste.

Na prática, propõe a união dos sete estados mais ricos que compõem o Consórcio Sul-Sudeste contra as políticas sociais voltadas às regiões mais pobres do País. Chamou a usurpação de “protagonismo político (…) e econômico”.

Justificou a medida em face de os mais ricos representarem “70% da economia e 56% da população” e classificou os nordestinos como “vaquinhas que produzem pouco”. Para ele, “diferente da grande maioria” dos brasileiros os nordestinos não trabalham, “vivem de auxilio emergencial”, como se permanecessem na extrema pobreza por opção e vontade.  

Lastimável essa postura. Trata-se de um nonsense político muito aquém para o exercício da função de governador de Minas Gerais. Um verdadeiro retrocesso social que, novamente, massacra os mais pobres.

Propõe o mesmo projeto dos militares na ditadura de 1964 quando afirmavam que “era preciso primeiro deixar o bolo crescer para depois distribuir”. Produzido à custa do trabalho, suor e esforço da tigrada, depois de pronto os convivas que sentavam à mesa se fartavam em benesses e privilégios enquanto o povão se contentava com as migalhas.

Foi essa mesma receita que ajudou a criar um Brasil tão injusto. No ranking da desigualdade social somos o país com a 2ª pior distribuição de renda do planeta. Só perdemos para o Catar.

Por aqui, seis pessoas detém a mesma renda dos 100 milhões de brasileiros mais pobres. O papel do estado é justamente defender as populações carentes, pobres, desassistidas. O pior é que uma parcela desta classe média, ignorante e nefasta, aplaude.

Nenhum país alcançou paz e segurança sem justiça social. Somos uma Nação onde a casa grande prevalece e a senzala continua a levar chibatada no lombo.

A fina flor da aristocracia verde-amarelo não é capaz de enxergar o exército de miseráveis que transita pelas ruas a revirar lixos em busca de comida. A pandemia expôs a chaga mais cruel da miséria que é a fome.

A injustiça social se tornou uma mazela incurável. A violência é fruto desta desigualdade. No Brasil, infelizmente, cada criança ao nascer traz no DNA a dívida social que o estado teve com seus pais e avós.

Refém do círculo vicioso da pobreza provavelmente irá crescer em um mundo sem direito a educação, saúde, moradia, lazer, cultura, trabalho nem esperança. O que resta será lutar pela sobrevivência e daí a vida vale pouco. Ou melhor, vale tudo, vale qualquer coisa.

Recém saímos de um governo que destruiu praticamente tudo o que havia sido plantado nos últimos anos, mas ainda precisava de avanços. O lamentável é que esse curto período de quatro anos não deixou apenas sequelas, mas sementes de um projeto que agora surge como erva daninha, onde os livros foram trocados por armas e bibliotecas substituídas clubes de tiros.

Em Minas Gerais, o governador propõe um apartheid, um fosso social onde os excluídos sejam separados na vala comum da miséria. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, PSDB, se adiantou em apoia-lo. Os dois estão de olho em 2026 e querem os votos da extrema-direita que apoia o ex-capitão inelegível. Após a péssima repercussão, ambos recuaram e tentaram desdizer.

Em São Paulo, o mais rico e poderoso estado do País cuja capital é a maior megalópole da America Latina, a Policia Militar invade comunidades no litoral e para fazer justiça com as próprias mãos mata dezoito jovens com o beneplácito do governador Tarcísio de Freitas, Republicanos.    

Este é o retrato 3×4 de um país onde a miséria, a pobreza, a violência se tornaram uma espécie de “banalidade do mal”. As estatísticas mostram a face mais cruel desta mazela onde milhões de crianças, jovens, adultos, idosos vivem em condições sub-humanas.

Cabe ao estado propiciar e garantir condições fundamentais para que todos tenham uma vida minimamente digna. O que assusta é saber que existem aqueles que querem o retrocesso social e têm o apoio de uma parcela significativa da sociedade.  

O governo precisa e deve privilegiar por meios de políticas públicas esse exército de miseráveis. Afinal, como ensinou o imortal Euclides da Cunha em sua obra “Os Sertões”, “o sertanejo, antes de tudo, é um forte”.

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