Zeto do Pajeú: história que deságua na poesia, música e amor à família

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Por Ítalo Rocha Leitão, jornalista

Há pouco mais de duas décadas, Pernambuco viu partir o poeta Zeto do Pajeú – José Antônio do Nascimento Filho. Ele ganhou fama quando Miguel Arraes voltou ao Brasil, depois de 15 anos de exílio imposto pela Ditadura Militar, e venceu as eleições de 1986 para governador. O mote da campanha ecoou no estado todo na voz e na viola de Zeto: “Volta Arraes ao Palácio das Princesas/vai entrar pela porta que saiu”.




Um pouco antes da campanha, Zeto conheceu a cantora Bia Marinho, que lhe abriu o coração e o caminho do Pajeú. Apaixonados, foram morar em São José do Egito, terra do pai dela, Louro do Pajeú, e surgiu a gravidez do primogênito, Antônio Marinho – que herdou o DNA poético do pai.

Para cumprir uma tradição sertaneja, Zeto teria que pedir ao pai de Bia a permissão para o casamento. No dia marcado, Zeto abriu o discurso. Mas, não saía nada compreensível. Bia interveio: “Pai, ele quer pedir minha mão”. Louro do Pajeú, poeta maior da região, com aquela sabedoria secular do sertanejo, olhou para o pretendente e disparou com um sotaque nordestino bem carregado: “É só o que falta ela te dar”.

A família caiu na gargalhada e começava ali uma longa história de amizade entre os dois poetas. A primeira doação do sogro ao genro, além do verso “Volta Arraes ao Palácio das Princesas….”, foi o sobrenome. O novo integrante da família passou a ser chamado de Zeto do Pajeú.

Apaixonado por poesia e por música, era também um pai zeloso. Acordava com o dia ainda escuro para preparar as refeições da família e levar os três filhos à escola (Antônio, Miguel e o enteado Greg).

Zeto do Pajeú deixou uma única obra, o CD Curvas, gravado em apenas quatro horas, sem intervalo, num estúdio do Poço da Panela, no Recife.Na gravação, ele conversa, afina o violão, declama e canta.

Na tarde do dia 14 de outubro de 2002, aos 46 anos, o poeta se despediu precocemente da vida. No seu enterro, em Canhotinho, sua terra natal, o filho Antônio Marinho declamou versos de Augusto dos Anjos e a companheira Bia Marinho foi buscar em Vinicius de Moraes a senha para a despedida:“Eu sei que vou te amar/por toda a minha vida eu vou te amar/a cada despedida eu vou te amar….”.

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