Zezé Motta chega aos 80 anos em plena forma e com uma obra imensa

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Em um mundo cercado de misses loiras e morenas de pele clara, ela nos ensinou a amar incondicionalmente a mulher negra

Por Julinho Bittencourt, compartilhado de Fórum




Zezé Motta.Créditos: Divulgação

Maria José Motta de Oliveira, conhecida em todo o território nacional e também pelo mundo como Zezé Motta, é filha de Oxum Opará com Oxóssi. Nesta quinta-feira, 27 de junho, completa inacreditáveis 80 anos em plena forma. Zezé tem múltiplos talentos. É uma excelente cantora, com voz de contralto, ou seja, com registros graves. Os mesmos em que trafegam seus olhos e sua expressão quando atua, também com fino talento, tanto no cinema quanto no teatro.

Difícil saber no que é melhor. E, de quebra, ainda é uma das mulheres mais lindas do Brasil. Daquelas belezas construídas, que não são dadas com o simples nascimento, mas talhadas no gesto, na postura e na coragem. Na militância incansável contra o racismo e as injustiças.

Zezé, e eu lembro bem pois era só um menino na época, nos ensinou a amar incondicionalmente a mulher negra. Em um mundo cercado de misses loiras e morenas de pele clara, onde às negras era reservado o papel de empregada doméstica ou mulher escravizada, ela nos alumbrou – e alumbra até hoje – com sua elegância indescritível.

Quando a sua Chica da Silva explodiu, em 1976, no lindo filme de Cacá Diegues, todos nós, em uníssono, nos apaixonamos perdidamente. Ao lado do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, brilhantemente interpretado por Walmor Chagas, entregamos nosso reino para Zezé.

Dona do Brasil

Naquele momento, o Brasil era dela. Seus discos lindos, com uma mistura alegre e explosiva de ritmos brasileiros, tocavam por toda parte. Como se ainda fosse pouco, ganhava de presente composições dos maiores nomes da nossa música. Rita Lee e Roberto de Carvalho fizeram “Muito Prazer”, canção em que se apresentava com graça e irreverência. Moraes Moreira fez a potente “Criola”. Todas elas aparecem no mesmo álbum, de 1978, repleto de ótimas canções, com destaque para “Magrelinha” e “Dores de Amores”, de Luiz Melodia entre clássicos de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil entre outros.

Foi mais ou menos por aí, um ou dois anos depois, que a vi cantar em um festival de verão. Zezé Motta entrou no palco quase que do jeito que veio ao mundo, com alguns paninhos aqui e acolá e incendiou a multidão que se aglomerava ao seu redor. Apesar da noite meio chuvosa, milhares de pessoas não arredaram pé nem um minuto enquanto ela dançava, cantava e enlouquecia o povo.  Suas apresentações musicais foram e ainda são assim, muito próximas do que ela se mostra quando atua, ou seja, inesquecíveis.

Zezé tem uma trajetória brasileira típica. De família humilde, nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) e passou a infância pulando de endereço em endereço na cidade do Rio de Janeiro por razões financeiras. Por um golpe do destino, como não tinha onde ficar enquanto a mãe costureira e o pai motorista, que também compunha e cantava na noite, trabalhavam, passava as tardes na casa de um tio, que era porteiro de um prédio no Leblon. No mesmo endereço morava a atriz Marieta Severo. As duas, ainda crianças, se tornaram amigas desde então.

Zezé estudou teatro, atuou ainda bem jovem na peça “Roda Viva”, de Chico Buarque, aprendeu a cantar, e desde então segue fazendo as duas coisas cada vez melhor. Por conta disso, amontoou prêmios e se tornou uma das artistas mais conhecidas, queridas e consagradas do Brasil.

O pequeno espaço deste artigo é pouco demais para um apanhado de sua obra e grandeza.

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